Determinação molecular dos sorotipos capsulares e perfil de sensibilidade aos antimicrobianos em Streptococcus agalactiae isolados de pacientes atendidos no Hospital Universitário/UFSC na cidade de Florianópolis/SC

Abstract

Introdução. Streptococcus agalactiae (estreptococo do grupo B EGB), reconhecido patógeno em neonatos e gestantes, tem emergido como importante agente infeccioso em pacientes adultos. Conhecer a epidemiologia das infecções por EGB e os padrões locais de sensibilidade aos antimicrobianos, bem como o conhecimento da distribuição dos sorotipos pode contribuir com a orientação na escolha da antibioticoterapia e consequentemente, na eficácia das vacinas disponíveis. Objetivos. Determinar os sorotipos capsulares circulantes, suas associações com diferentes sítios anatômicos e o perfil de sensibilidade antimicrobiana dos isolados de EGB, entre pacientes atendidos no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Métodos. Foram avaliados 233 EGB isolados de diferentes amostras clínicas em 2016. A determinação dos sorotipos capsulares foi realizada por PCR, e o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos por disco difusão, complementado por pesquisa dos principais genes de resistência (PCR). Resultados. Os sorotipos detectados mais frequentemente foram Ia (44%), V (24%) e II (17%), além de III (6%), Ib (6%), IX (2%) e IV (1%). Os sorotipos II e III foram predominantemente associados à infecção (54% e 53%, respectivamente), por outro lado, Ia foi relacionado à colonização em gestantes em 68% dos casos. Não foi detectada resistência à penicilina, levofloxacina, linezolida e vancomicina. A sensibilidade à tetraciclina foi observada em apenas 20,1% dos isolados, norfloxacino em 55,8%, eritromicina em 73,8%, azitromicina em 74,7% e clindamicina em 84,1%. O principal fenótipo de resistência à eritromicina/clindamicina foi o induzível (52,5%), dos quais 87,5% carreava o gene ermTR, além do fenótipo M (39,3%), todos carreando o gene mefA/E, e em apenas 8,2% de resistência à clindamicina foi constitutiva, todos carreando o gene ermB. A presença de mefA/E associada ao gene ermTR ou ermB foi observada entre os isolados resistentes à eritromicina (11,5% e 1,6%, respectivamente), principalmente no fenótipo induzível (75%). Os genes associados à resistência foram detectados em 5,8% dos isolados sensíveis. Os sorotipos V e III destacaram-se entre os isolados resistentes. As altas taxas de resistência observadas no estudo contraindicam o uso de macrolídeos como terapia empírica na região estudada. Além disso, a elevada prevalência do sorotipo V, além de diferir dos demais estudos brasileiros, reflete a necessidade de vigilância continuada dos sorotipos circulantes de S. agalactiae na grande Florianópolis devido a preocupante associação com resistência antimicrobiana. Os resultados evidenciam a relevância do conhecimento sobre a distribuição dos sorotipos se deve principalmente ao desenvolvimento de vacinas multivalentes anti EGB, direcionadas aos principais sorotipos circulantes no mundo, como importante ferramenta, especialmente para prevenção da sepse neonatal.

Abstract : Background. Streptococcus agalactiae (group B streptococcus GBS), recognized pathogen in neonates and pregnant women, has emerged as an important infectious agent in adult patients. Knowing the epidemiology of GBS infections and local patterns of antimicrobial susceptibility, as well as the knowledge of the distribution of serotypes may contribute to guidance in the choice of antibiotic therapy and hence the efficacy of the available vaccines. Aims. To determine, by molecular methodology, capsular serotypes, as well as the antimicrobial susceptibility profile of circulating Streptococcus agalactiae isolates among patients attended at the University Hospital of the Federal University of Santa Catarina. Methods. A total of 233 GBS were isolated from different clinical samples in 2016. The determination of the capsular serotypes was performed by PCR, and the antimicrobial susceptibility profile by disk diffusion, complemented by research on the main resistance genes (PCR). Results. The most frequent serotypes were Ia (44%), V (24%) and II (17%), as well as III (6%), Ib (6%), IX (2%) and IV (1%). Serotypes II and III were predominantly associated with infection (54% and 53% respectively); on the other hand, it was related to colonization in pregnant women in 68% of the cases. No resistance to penicillin, levofloxacin, linezolid and vancomycin was detected. The susceptibility to tetracycline was observed in only 20.1% of the isolates, norfloxacin in 55.8%, erythromycin in 73.8%, azithromycin in 74.7% and clindamycin in 84.1%. The major phenotype of erythromycin/clindamycin resistance was inducible (52.5%), of which 87.5% carried the ermTR gene, in addition to the M phenotype (39.3%), all carrying the mefA/E gene, and in only 8.2% resistance to clindamycin was constitutive, all carrying the ermB gene. The presence of ermTR or ermB gene associated with mefA/E was observed among isolates resistant to erythromycin (11.5% and 1.6%, respectively), mainly in the inducible phenotype (75%). Resistance genes were detected in 5.8% of sensitive isolates. Serotypes V and III were among the resistant isolates. The high resistance rates observed in the study contraindicate the use of macrolides as empirical therapy in the studied region. In addition, the high prevalence of serotype V, in addition to differing from other Brazilian studies, reflects the need for continued surveillance of circulating serotypes of S. agalactiae in the greater Florianópolis due to the worrying association with antimicrobial resistance. The results evidenced the relevance of the knowledge on the distribution of serotypes, mainly due to the development of multivalent anti-GBS vaccines, directed to the main circulating serotypes in the world, as an important tool, especially for the prevention of neonatal sepsis.