Abstract:
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Esta monografia aborda a tatuagem contemporânea como um ritual de auto-reflexividade cujas marcas comunicam tempos díspares, que ao serem narrados no presente da interação, servem como uma forma de autenticação do corpo. Aqui são tratadas questões como a ação do tempo, enquanto fato de dessemelhança, sobre a identidade pessoal e a manutenção de si através do que Paul Ricoeur chamou de identidade narrativa. A historiografia a respeito da tatuagem também é tema desta
pesquisa, sendo tratadas aqui as diferentes perspectivas a respeito da (re)inserção e atualização da tatuagem no Ocidente a partir das narrativas produzidas no contexto de contato entre viajantes europeus e populações nativas das Américas e da Oceania. A literatura setecentista acerca da tatuagem rapidamente se popularizou na Europa, motivando diversas áreas da ciência à compreensão das práticas de inscrição corporal que ocorriam em solo Europeu. Para compreender a transformação de estatuto desta prática – comumente associada a mentalidade criminosa pelos higienistas do XIX, até sua ampla difusão na atualidade enquanto forma de consumo estético – são analisados os pareceres do médico francês Alexandre Lacassagne, que em vida dedicou-se ao estudo da tatuagem entre populações encarceradas. O arquivo de Lacassagne possui cerca de mil excertos
de peles que foram tatuadas ao longo do século XIX, curadas e colecionadas pelo autor de “Les tatouages: étude anthropologique et médico-légale” (1881). Seu parecer acerca da iconografia representada, assim como o decalque de algumas das tatuagens analisadas por Lacassagne é uma das fontes da presente pesquisa. Para a realização desta pesquisa, também foram realizadas entrevistados tatuadores da região de Florianópolis/SC, que me contaram a respeito de sua relação com a prática da tatuagem e os processos de iniciação a esta técnica. |