Tecituras mnêmicas: os fios da memória na dramaturgia visual de Tadeusz Kantor

Abstract

Esta pesquisa analisa os processos mnêmicos enquanto estimuladores dramatúrgicos na obra do encenador polonês Tadeusz Kantor (1915-1990). A partir de conceitos da historiadora Aleida Assmann, reconhecendo a memória enquanto potência (vis), identificamos de que maneira o teatro kantoriano pode se estabelecer como um fecundo espaço de recordação. Tecemos aqui uma análise desse constante deslocamento entre o presente e o passado, inerente ao ato de recordar, fundamentalmente destacando seu potencial criativo e o de narrar a si. Ao adentrarmos no quarto da imaginação de Kantor, refletimos sobre como suas imagens simbólicas ilustram algumas das principais questões da segunda metade do século XX e enunciam seus dilemas pessoais, produzindo uma dramaturgia visual que tem a memória como sua principal matéria-prima. A partir disso, pensamos sobre as especificidades do cruzamento entre realidade e imaginação, vida e morte, bem como sobre de que maneira a arte pode atualizar as novas perspectivas sobre a memória após a Segunda Guerra Mundial ? quando se torna essencial lembrar os traumas para não os repetir.

Abstract: This research analyzes mnemic processes as dramaturgical stimulators in the work of the Polish director Tadeusz Kantor (1915-1990). Based on the concepts of the historian Aleida Assmann, recognizing memory as a force (vis), we identify how Kantorian theater can establish itself as a fruitful space of memory. We weave here an analysis of this constant displacement between the present and the past, inherent in the act of remembering, fundamentally highlighting its creative potential and the act of narrating oneself. As we enter Kantor's imagination room, we reflect on how his symbolic images illustrate some of the main issues of the second half of the 20th century and enunciate his personal dilemmas, producing a visual dramaturgy that has memory as its main raw material. From this, we think about the specificities of the intersection between reality and imagination, life and death, as well as how art can update new perspectives on memory after World War II - when it becomes essential to remember the traumas so as not to repeat them.