O enigma associado ao feminino: reflexões críticas a partir da psicanálise

Abstract

O enigma é referência fundamental na constituição subjetiva conforme apontado por Freud, considerando que atravessa a todas as pessoas e diz respeito às questões da sexualidade e da morte. Não obstante é possível localizar na tradição do conhecimento ocidental e mesmo na psicanálise, a associação do enigma ao feminino, bem como, a leitura de que o enigma diz respeito ao difícil, ao que escapa ao conhecimento e, por isso, necessita ser decifrado. Para problematizar essa questão recorremos ao pressuposto de que os modos de produzir conhecimento e os modos de subjetivar fazem interface entre áreas como literatura, música, história, filosofia, estudos de gênero, psicanálise, dentre outras. Assim, nesta dissertação objetivamos: problematizar os pressupostos presentes na psicanálise que localizam o enigma como necessariamente associado ao feminino, considerando a crítica contemporânea sobre esses pressupostos. Para tanto recorremos à análise de textos presentes em autoras e autores de diversas áreas do conhecimento contemporâneo ocidental, bem como, textos presentes em obras freudolacanianas e de psicanalistas contemporâneos(as). Utilizamos os princípios da transferência, da atenção flutuante e associação livre, como estratégia de produção, que nos possibilitam tanto leituras desses textos articulados a sua referência na história, música, literatura, filosofia, dentre outras, quanto nos possibilitam reconhecer a relação existente entre o pesquisador e a realidade, no sentido do material a ser pesquisado. Consideramos que o enigma é atribuído ao feminino em decorrência da hegemonia no cenário contemporâneo do pressuposto presente nos modos de subjetivar e modos de conhecer que instauram o par binário masculino- feminino e a hierarquia que valoriza o primeiro em detrimento do segundo. Esse pressuposto, ainda, carrega relações de poder entre as pessoas a partir do seu reconhecimento como masculino ou feminino, e assim sustenta a heteronorma ao excluir do quadro de inteligibilidade as diferentes modalidades de subjetivação.

Abstract: The enigma is a fundamental reference in the subjective constitution as pointed out by Freud, considering that it crosses all people and concerns the issues of sexuality and death. Nevertheless, it is possible to locate in the tradition of Western knowledge and even in psychoanalysis, the association of the enigma with the feminine, as well as the understanging that the enigma concerns the difficult, that which escapes knowledge and, therefore, needs to be deciphered. To bring this issue to discussion, we resort to the assumption that the ways of producing knowledge and the ways of subjectifying make an interface between areas such as literature, music, history, philosophy, gender studies, psychoanalysis, among others. Thus, in this dissertation we aim to: bring to discussion the presuppositions present in psychoanalysis that put the enigma as necessarily associated with the feminine, considering the contemporary criticism of these assumptions. For that, we resorted to the analysis of texts present in authors and authors from different areas of contemporary Western knowledge, as well as texts present in Freud-Lacanian works and contemporary psychoanalysts. We use the principles of transference, floating attention and free association, as a production strategy, which allow us to both read these texts articulated with their reference in history, music, literature, philosophy, among others, and allow us to recognize the relations between the researcher and reality, in the sense of the material to be researched. We consider that the enigma is attributed to the feminine as a result of the hegemony in the contemporary scenario of the assumption present in the ways of subjectifying and ways of knowledge that establish the male-female binary pair and the hierarchy that values the first over the second. This assumption also carries power relations between people based on their recognition as male or female, and thus sustains the heteronorm by excluding the different modalities of subjectivation from the framework of intelligibility.