De(s)colonizar a escuta: possibilidades antirracistas em psicanálise

Abstract

Esta dissertação propõe um diálogo entre psicanálise e racismo, tendo como base epistemológica saberes antirracistas, anticoloniais e decoloniais. O racismo é entendido como a produção e reprodução da colonização e, consequentemente, um problema branco conforme ensinou Frantz Fanon em sua obra, precursora dos estudos de(s)coloniais, que já dialogava com a psicanálise. As reflexões construídas tiveram como objetivo interrogar a branquitude sobre suas escutas, e para essa finalidade, foram realizadas entrevistas e conversa com dois psicanalistas brancos e uma psicanalista negra. As falas das pessoas entrevistadas se tornaram referências, entrelaçadas com a revisão bibliográfica dos saberes mencionados e com alguns dos livros que compõe o Seminário de Jacques Lacan, sendo sua teoria e orientação, constituintes da prática clínica da autora da dissertação. As reflexões e análises propostas configuraram alguns questionamentos acerca do silenciamento de psicanalistas brancos frente às questões raciais que permeiam a cultura brasileira e também, portanto, o espaço da clínica psicanalítica. A pesquisa revelou uma crença em uma suposta neutralidade, por parte de psicanalistas brancos, com relação a queixas de pacientes decorrentes de racismo, como um encobrimento de suas posições frente à prática de escuta. Neste sentido, os trechos dos ensinamentos de Lacan trazidos ao texto, tiveram como função contribuir para o desmancheda neutralidade no espaço da clínica e a possibilidade de outras interpretações da teoria lacaniana.

Abstract: This dissertation proposes a dialogue between psychoanalysis and racism, having antiracist, anti-colonial and decolonial knowledge as an epistemological basis. Racism is understood as the production and reproduction of colonization and, consequently, a white problem, as taught by Frantz Fanon in his work, a precursor of colonial studies, which already dialogued with psychoanalysis. The constructed reflections aimed to interrogate the whiteness about their listening, and for this purpose, interviews and conversations were carried out with two white psychoanalysts and one black psychoanalyst. The speeches of the people interviewed became references, intertwined with the bibliographical review of the aforementioned knowledge and with some of the books that make up the Jacques Lacan Seminar, with its theory and orientation being constituents of the clinical practice of the author of the dissertation. The proposed reflections and analyzes configured some questions about the silencing of white psychoanalysts in the face of racial issues that permeate Brazilian culture and, therefore, also the space of the psychoanalytic clinic. The research revealed a belief in a supposed neutrality, on the part of white psychoanalysts, in relation to patient complaints arising from racism, as a cover-up of their positions regarding the practice of listening. In this sense, the excerpts from Lacan's teachings brought to the text had the function of contributing to the dismantling of neutrality in the clinical space and the possibility of other interpretations of Lacanian theory.