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O modelo químico-dependente do agronegócio envolve insustentabilidade em termos sociais, sanitários e ambientais. Mais ainda, a monocultura massiva no Brasil não garante alimento para todos e é progressivamente voltada para a fabricação de biocombustíveis, geração de commodities e alimentação de animais em regime de confinamento. Nesse viés, o herbicida ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) é o segundo princípio ativo de uso agrícola mais vendido no país e consiste em uma auxina sintética com ampla utilização no mundo. Quando utilizado em culturas, pode atingir corpos d’água direta ou indiretamente, atingindo espécies não-alvo. Pesquisas recentes demonstram que o herbicida 2,4-D pode causar alterações endócrinas, neuronais, hepáticas, respiratórias e genéticas em animais como peixes, camundongos, crustáceos, ratos, coelhos e insetos. Como organismo modelo que oferece vantagens práticas e técnicas para estudar os efeitos biológicos do herbicida 2,4-D, o peixe-zebra (Danio rerio) é um modelo animal utilizado em pesquisas no mundo inteiro por ser representativo de várias espécies potencialmente afetadas por contaminantes. Além disso, suas brânquias são fortes indicadoras de contaminação ambiental e o primeiro órgão a reagir a condições desfavoráveis. Assim, este trabalho visou caracterizar os efeitos morfológicos e morfométricos da exposição branquial de Danio rerio adultos ao herbicida ácido 2,4-diclorofenoxiacético. Os peixes-zebra foram divididos em 4 grupos: Controle (0,0 mg/L); 0,03 mg/L; 0,3 mg/L; 3 mg/L de 2,4-D (n = 3/grupo), expostos ao 2,4-D durante 14 dias. No 14° dia, os animais foram eutanasiados e, as brânquias, coletadas. Após dissecação, processamento e coloração, foram feitas análises morfométricas e histopatológicas do tecido. A avaliação morfométrica das brânquias demonstrou que o herbicida 2,4-D gerou diminuição na distância entre as lamelas e aumento da largura basal lamelar, ambas concentração-dependente. Além disso, os peixes-zebra expostos às concentrações de 0,3 mg/L apresentaram um aumento no comprimento das lamelas e, em conjunto com a de 0,03 mg/L, uma diminuição na largura intermediária lamelar e na largura lamelar total. Também houve diminuição da largura apical lamelar em todas as concentrações em comparação ao controle e diminuição da largura do filamento. A concentração de 3,0 mg/L causou um aumento na largura intermediária lamelar e na largura lamelar total. A análise histopatológica demonstrou que, já na concentração mínima de 0,03 mg/L, foi detectado presença de hiperplasia, hipertrofia, descolamento epitelial, fusão parcial das lamelas, fusão total de poucas lamelas, congestão vascular, dilatação do canal marginal e aneurisma. Na concentração de 0,3 mg/L, observou-se as mesmas lesões, com exceção das fusões lamelares, e maior frequência de congestão vascular. Por fim, na de 3,0 mg/L, houve a maior frequência de hiperplasia e de descolamento epitelial, sendo o único grupo a apresentar lesão de estágio II de fusão total severa de lamelas, com ausência apenas de hipertrofia. O IAH demonstrou que as concentrações de 0,3 mg/L e 3,0 mg/L causaram danos leves a moderados. Os danos morfométricos e morfológicos causados pelo herbicida 2,4-D nas brânquias de Danio rerio foram agravados conforme aumento da concentração, sendo presentes já na concentração máxima permitida por ANVISA e CONAMA. Esses danos foram encontrados em outras pesquisas com agrotóxicos, o que sugere que sejam mecanismos de proteção do órgão em resposta ao herbicida. Infere-se, portanto que este trabalho contribuiu para a compreensão dos prejuízos resultantes após exposição crônica de organismos aquáticos ao 2,4-D, de maneira a fornecer evidências para o entendimento dos efeitos tóxicos do herbicida a organismos não-alvo e para a reavaliação da dose máxima permitida. |
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