Abstract:
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A corrida de terras deflagrada no início do século XXI é um grande demonstrativo de como a terra transformou-se em um ativo valioso na configuração de poder do sistema internacional. A partir da tendência de liberalização dos fluxos financeiros internacionais na década de 70 e avanço para a crescente financeirização da ordem econômica mundial, as terras aráveis e seus recursos foram inseridas em circuitos de mercado como ativos valiosos. Principalmente neste contexto de consequências da múltipla crise financeira, ambiental e energética global, tanto Estados quanto empresas e fundos de investimento procuram o controle extraterritorial da terra, de seus insumos e recursos, em fenômeno que ficou conhecido como land grabbing. Na medida em que o Brasil tornou-se um grande alvo deste fenômeno por suas terras vastas e recursos naturais abundantes, bem como sua forte orientação agrária, questiona-se como a crescente desnacionalização do território brasileiro tem a capacidade de alterar a governança de terras do país dentro de suas próprias fronteiras. Assim, este trabalho investiga as implicações da financeirização da agricultura e da apropriação transnacional de terras na inserção do Brasil no sistema internacional. Objetiva-se, com isso, entender de quais formas a ingerência destes agentes e capital externo no território brasileiro conseguem alterar a autonomia e soberania do país em suas decisões políticas e econômicas. A pesquisa caracteriza-se como analítica e descritiva, e utiliza-se tanto dos panoramas teóricos da Teoria Crítica das Relações Internacionais quanto de Estudos Agrários Críticos. Depreende-se que a intensificação da financeirização do campo e do land grabbing em território brasileiro contribui com a externalização da tomada de decisões do país, aprofunda sua condição de dependência e prejudica sua governança de terras, bem como afeta negativamente os modos de vida, culturas e biomas nacionais. |