Experiências gestacionais em pessoas transgênero: uma revisão integrativa

Abstract

Introdução: Pessoas transgênero podem engravidar, mesmo com a vinculação de gravidez com a feminilidade e com a noção de que transgeneridade implica em abdicar-se da capacidade reprodutiva. Esta revisão buscou identificar os dados disponíveis na literatura sobre as experiências e desfechos gestacionais nessa população, visando contribuir para o desenvolvimento de melhores práticas em saúde. Métodos: A pesquisa foi realizada em novembro de 2023 na plataforma da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sem determinar limitação de tempo. Foram incluídos artigos que abordassem gestação ou parto em pessoas transmasculinas. Excluíram-se aqueles focados na contracepção, aborto ou lactação; não encontrados na íntegra; ou em idioma diferente do português, inglês ou espanhol. Resultados: 60 artigos cumpriram os critérios de inclusão, sendo a maioria revisões bibliográficas. Foram identificados quatro aspectos principais: i) Biológicos, ii) Psicossociais iii) de Acesso à saúde e iv) Jurídicos. Discussão: Os achados mostram que homens trans e pessoas não-binárias AFAB enfrentam diversos obstáculos durante o ciclo gravídico-puerperal. De forma clínica, são gestações muito semelhantes às de mulheres cisgênero, sendo recomendado um cuidado de rotina. No entanto, experiências de disforia, transfobia e isolamento provocam uma vulnerabilidade maior para transtornos mentais, possivelmente aumentando o risco de depressão puerperal. Além disso, o acesso à saúde é dificultado pela rigidez do binarismo embebido nos sistemas operacionais, de classificação e no treinamento profissional, perpetuando práticas discriminatórias. É recomendável o respeito ao nome e pronomes do paciente, a adequação de prontuários e normas dos planos de saúde, alterações no currículo acadêmico e realização de mais estudos.

Introduction: Transgender people can get pregnant, even with the correlation between pregnancy and femininity and with the notion that transgenderism implies giving up reproductive capacity. This review sought to identify data available in the literature on pregnancy experiences and outcomes in this population, aiming to contribute to the development of best health practices. Methods: The research was carried out in November 2023 on the Virtual Health Library (VHL) platform, without determining time limitations. Articles that addressed pregnancy or childbirth in transmasculine people were included. Those focused on contraception, abortion or lactation; not found in full; or in a language other than Portuguese, English or Spanish were excluded. Results: 60 articles met the inclusion criteria, the majority of which were literature reviews. Four main aspects were identified: i) Biological, ii) Psychosocial iii) Healthcare access and iv) Legal. Discussion: The findings reveal that trans men and AFAB non-binary people face several obstacles during the pregnancy-puerperal cycle. Clinically, these pregnancies are very similar to those of cisgender women, and routine care is recommended. However, experiences of dysphoria, transphobia and isolation cause greater vulnerability to mental disorders, possibly increasing the risk of postpartum depression. Furthermore, access to healthcare is hampered by the rigid binary embedded in operational, classification and professional training systems, perpetuating discriminatory practices. It is recommended to respect the patient's name and pronouns, adapt medical records and health plan standards, make changes to the academic curriculum and carry out further studies.