A Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina sob a perspectiva das questões étnico-raciais

Abstract

A formação em Biblioteconomia no Brasil começou na década de 1930, com a Universidade Federal do Rio de Janeiro sendo pioneira ao oferecer o primeiro curso superior na área. Bibliotecárias/os desempenham um papel crucial na sociedade, atuando como intermediárias/os entre a informação e usuários/as, auxiliando na busca e seleção de materiais, promovendo a leitura, orientando pesquisas e desenvolvendo projetos que atendam às necessidades informacionais da comunidade. Muitos cursos de Biblioteconomia no Brasil não incluem estudos sobre a história da população negra, indígena e quilombola, nem sobre políticas afirmativas raciais, o que resulta em pouco conhecimento entre as bibliotecárias/os sobre esses temas. O Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010) destaca a necessidade de modificar estruturas institucionais para enfrentar essas desigualdades. Apesar de representarem mais da metade da população, a população negra enfrenta desigualdades sistêmicas. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), embora haja uma presença significativa de negras/os, ainda há desafios em termos de igualdade e representação e entende-se que as práticas pedagógicas antirracistas são cruciais para mitigar os danos enfrentados. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi analisar a relevância dos marcos regulatórios relacionados à questão étnico-racial nas políticas de trabalho desenvolvidas pela BU da UFSC. Metodologicamente, a pesquisa é de caráter exploratório e documental, focando sua análise nos documentos que normalizam as questões raciais na educação e na UFSC, bem como nas atividades e ações desenvolvidas com e pela biblioteca central (BU). A pesquisa identificou a necessidade de implementar práticas antirracistas nas bibliotecas universitárias, reconhecendo que as/os profissionais bibliotecárias/os precisam de formação acerca das questões raciais, de gênero e de sexualidade, e que a política desenvolvida não pode manter-se alheia e silenciada quanto a este público, inclusive para o fortalecimento da permanência e o combate à evasão de estudantes vulnerabilizados. A presença de negras e negros nas universidades demanda mudanças profundas na cultura institucional vigente, pois ao longo da história da universidade brasileira fortaleceu e fortalece o status quo da branquitude e, consequentemente, do pensamento racista. Para a promoção do pertencimento desses estudantes ao espaço universitário e acadêmico, a BU constitui-se estrutura fundamental da UFSC para implementação e consolidação da política de enfrentamento ao racismo institucional, mas não sem antes atualizar suas práticas e políticas para a educação antirracista, fazendo valer seu papel social na diversificação do acervo, na programação de eventos que abordem questões raciais, na inclusão de rodas de conversa, exibição de filmes e exposições, na capacitação das/os profissionais bibliotecárias/os e das/os que trabalham na Biblioteca.

Abstract: Library Science education in Brazil began in the 1930s, with the Federal University of Rio de Janeiro being a pioneer in offering the first higher education course in the field. Librarians play a crucial role in society, acting as intermediaries between information and users, assisting in the search and selection of materials, promoting reading, guiding research, and developing projects that meet the informational needs of the community. Many Library Science courses in Brazil do not include studies on the history of the Black, Indigenous, and Quilombola populations, nor on racial affirmative policies, resulting in limited knowledge among librarians on these topics. The Statute of Racial Equality (Law No. 12,288/2010) highlights the need to modify institutional structures to address these inequalities. Despite representing more than half of the Brazilian population, Black people face systemic inequalities. At the Federal University of Santa Catarina (UFSC), while there is a significant presence of Black individuals, challenges remain in terms of equality and representation, and it is understood that anti-racist pedagogical practices are crucial to mitigating the harms faced. In this context, the research aimed to analyze the relevance of regulatory frameworks related to ethnic-racial issues in the work policies developed by UFSC's Central Library (BU). Methodologically, the research is exploratory and documentary, focusing its analysis on the documents that normalize racial issues in education and at UFSC, as well as on the activities and actions developed with and by the Central Library (BU). The research identified the need to implement anti-racist practices in university libraries, recognizing that librarians require training on racial, gender, and sexuality issues, and that the policy developed cannot remain detached and silent regarding this public, including for strengthening retention and combating the dropout of vulnerable students. The presence of Black individuals in universities demands profound changes in the prevailing institutional culture, as throughout the history of the Brazilian university, it has strengthened and continues to strengthen the status quo of whiteness and, consequently, racist thought. To promote the belonging of these students to the university and academic space, the BU is a fundamental structure of UFSC for the implementation and consolidation of policies to combat institutional racism, but not without first updating its practices and policies for anti-racist education, enforcing its social role in diversifying the collection, in programming events that address racial issues, including discussion circles,