Piagas, bruxedos, gravuras e sons: uma etnografia da ecologia das práticas dos Paganismos Contemporâneos com o Círculo Piaga no Piauí

Abstract

A dissertação ?Piagas, bruxedos, gravuras e sons ? uma etnografia da ecologia das práticas dos Paganismos Contemporâneos com o Círculo Piaga no Piauí? acompanha a trajetória criadora do Paganismo Piaga na Vila Pagã, situada na paisagem multiespécies da Mata dos Cocais, no interior do Piauí. Seguindo os rastros geradores dessa religião, apresento as condições historicamente eficientes por meio das quais tradições religiosas autodenominadas (neo)pagãs possam habitar a contemporaneidade. Destaco, ao longo dos capítulos, a capacidade de fazer-mundos desses experimentos sociais em termos de criatividade, fabulação, especulação e crítica, nenhuma delas imune ao papel relacional e mutuamente produtivo da materialidade, do corpo, do sensorium, e da historicidade nos mundos humanos. Mais do que um resgate do passado, os Paganismos Contemporâneos se configuram como modos de vida e existências cosmopolíticas, reavivando ancestralidades em diálogo com um presente no qual religião e emergências político-climáticas se entrelaçam. Nesse contexto, a ecologia das práticas acontece como um campo de relações em que a coexistência de múltiplas formas de existência entram em conflito, negociação, e diplomacia. No Brasil e no Piauí, essas dinâmicas são apropriadas e ressignificadas de maneiras singulares, atravessadas por histórias locais de colonização e aterramento. O Círculo Piaga, em particular, protagoniza um movimento de ressacralização da história-natureza e de ascendência de espécies companheiras que reafirmam coexistências, negociações, e alianças mais-que-humanas na Mata dos Cocais piauiense. Na paisagem da Vila Pagã, o Paganismo Piaga acontece ao longo de práticas criativas, inventivas, e especulativas experimentadas ao longo de relações estreitas com os ?donos do lugar? a partir de arranjos cosmológicos, materiais, e sazonais que não se estabilizam, ao contrário, seguem um fluxo contínuo de emergência, desdobrando-se e redesenhando-se em tipos-em-feitura que escapam de qualquer conclusão definitiva. Através dessa ecologia das práticas, observa-se a transformação das relações de sacralização da natureza e naturalização do sagrado ao longo do tempo analisado, revelando processos de criação e experimentação que mantêm viva a dinamicidade tentacular dos Paganismos Contemporâneos.

Abstract: The dissertation ?Piagas, spells, engravings and sounds ? an ethnography of the ecology of practices of Contemporary Paganisms with the Piaga Circle in Piauí? follows the creative trajectory of Piaga Paganism in Vila Pagã, located in the multispecies landscape of Mata dos Cocais, in the interior of Piauí. Following the traces that generated this religion, I present the historically efficient conditions through which religious traditions that call themselves (neo)pagan may inhabit in contemporary times. I highlight, throughout the chapters, the world-making capacity of these social experiments in terms of creativity, fabulation, speculation and criticism, none of them immune to the relational and mutually productive role of materiality, the body, the sensorium, and historicity in human worlds. More than a rescue of the past, Contemporary Paganisms are configured as cosmopolitical ways of life and existence, recreating cults and ancestries in dialogue with a present in which religion and politics-climate emergencies intertwine. In this context, the ecology of practices occurs as a field of relationships in which the coexistence of multiple forms of existence enters into conflict, negotiation, and diplomacy. In Brazil and Piauí, these dynamics are appropriated and resignified in unique ways, traversed by local histories of colonization and land-ing. The Piaga Circle, in particular, leads a movement of resacralization of nature-history and the ascendancy of companion species that reaffirm coexistence, negotiations, and more-than-human alliances. In Vila Pagã?s landscape, the Piaga Paganism happens along creative, inventive and speculative practices that are experimented through close relations with the ?owners of the place? forged through cosmological, material and seasonal arrangements that aren?t stable, but follow a continuous flow of emergence, unraveling and redrawing themselves into types-in-the-making that escape any definitive conclusion. Through this ecology of practices, we observe the transformation of the relationships of sacralization of nature and naturalization of the sacred over time, revealing processes of creation and experimentation that keep Contemporary Paganisms? tentacular dynamicity alive.