A vivência da menstruação para pessoas em situação de pobreza menstrual

Abstract

Esta pesquisa propõe-se a analisar a vivência da menstruação para pessoas em situação de pobreza menstrual. Para isso, participaram da pesquisa quatro mulheres que estavam pernoitando na Passarela da Cidadania, em Florianópolis/SC, e com quem realizei entrevistas para escutar os ?segredos? que foram possíveis de compartilhar em nosso encontro, referentes aos seus processos com a menstruação. Para a investigação, utilizei preceitos da Análise do Discurso em diálogo com os estudos feministas de gênero. A pobreza menstrual refere-se aos diferentes desafios materiais e psicossociais que acometem pessoas que menstruam e estão em situação de vulnerabilidade, sendo um problema de saúde pública que precisa ser, urgentemente, levado em consideração a partir de uma perspectiva intersetorial. As políticas públicas brasileiras que se propõe a erradicar a pobreza menstrual são assistencialistas e dispõem, tão somente, da distribuição de absorventes descartáveis para ?solucionar? o problema (produzindo e sustentando outros). Além disso, omitem diversos pontos importantes como o acesso universal à água potável e ao saneamento básico, e a isenção de impostos sobre produtos de higiene menstrual. A pobreza menstrual demanda que a menstruação seja compreendida a partir de uma perspectiva de saúde pública integral, e não como um ?bem individual?, pois escancara a desigualdade social. As afetações com as experiências de menstruar foram analisadas a partir de uma perspectiva ético-política, visto que o sofrimento produzido em vivenciar a menstruação em uma sociedade patriarcal-racista-capitalista é atravessada por questões de gênero, raça e classe no Brasil. Sendo assim, a luta pela erradicação da pobreza menstrual precisa estar associada à construção de um novo projeto de sociedade, equânime, antiracista, antipatriarcal e anticapitalista.

Abstract: This research aims to analyse the experience of menstruation for people living in period poverty. To this end, four women who were staying overnight at the Passarela da Cidadania in Florianópolis/SC took part in this research. I conducted interviews with them to listen to the \"secrets\" they could share during our meeting regarding their processes with menstruation. For the analysis, I used the precepts of dialogue discourse analysis from feminist gender studies. Menstrual poverty refers to the different material and psychosocial challenges experienced by people who menstruate and live in situations of vulnerability. It is a public health problem which urgently needs to be taken into account from an intersectoral perspective. Brazilian public policies aimed to eradicate period poverty are welfarist and only offer the distribution of disposable pads to \"solve\" the problem (producing and sustaining others). In addition, they omit several important points such as universal access to drinking water and basic sanitation, and tax exemption on menstrual hygiene products. Period poverty demands for menstruation to be comprehended from an integral public health angle, and not as an \"individual good\", exposing social inequality. The effects of the experience of menstruating were analysed from an ethical-political approach, given that the suffering produced by experiencing menstruation in a patriarchal-racist-capitalist society is driven by gender, class and race issues in Brazil. Therefore, the fight to eradicate period poverty needs to be tied to the construction of a new, equitable, anti-racist, anti-patriarchal and anti-capitalist society project.