Abstract:
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Este trabalho apresenta-se como um estudo qualitativo sobre os Itinerários
Terapêuticos de trabalhadores com adoecimentos e acidentes relacionados ao
trabalho em Santa Catarina, realizado no âmbito do Projeto Caminhos do Trabalho.
Tem como principal objetivo a investigação da trajetória de busca pelo cuidado
percorrida pelos trabalhadores entrevistados, através da caracterização de seu perfil
socioeconômico, a identificação das determinações macrossociais subjacentes e os
desafios enfrentados no acesso aos serviços de saúde e assistência. O trabalho
parte de uma análise materialista dialética sobre o adoecimento relacionado ao
trabalho, destacando a centralidade do trabalho para a constituição do ser humano e
da sociedade, o papel da alienação do trabalho e da superexploração no capitalismo
dependente na manutenção de altos índices de acidentes e doenças ocupacionais,
na ocultação e individualização do adoecimento laboral, e a disputa pelos
significados do processo saúde-doença como parte da luta de classes. A pesquisa
utilizou entrevistas semiestruturadas com quatro trabalhadores atendidos pelo
Projeto, analisando suas histórias de adoecimento, busca pelo cuidado e limites de
acesso encontrados na trajetória percorrida. Os relatos evidenciaram jornadas
exaustivas, múltiplos empregos, precarização das condições de trabalho, falta de
reconhecimento do nexo causal entre trabalho e adoecimento, dificuldades de
acesso a direitos trabalhistas e previdenciários, além de impactos profundos na
saúde física, mental e na vida social dos entrevistados. São discutidos elementos
como a percepção de adoecimento apenas em situações graves, frequentemente
após acidentes de trabalho, as falhas múltiplas do sistema na assistência a esses
trabalhadores e o desconhecimento generalizado sobre serviços especializados,
como o CEREST. O acesso ao cuidado é dificultado por múltiplas determinações,
destacando-se questões de ordem financeira dos trabalhadores, culpabilização dos
trabalhadores pelo próprio adoecimento, limitações do atendimento dos serviços de
saúde, subfinanciamento das instituições e limitações da atuação sindical.
Conclui-se que ainda não há linha de cuidado adequada para a saúde do
trabalhador no SUS, necessitando de mais políticas públicas, capacitação de
profissionais e fortalecimento de projetos como o Caminhos do Trabalho. |