Convite à (des)construção: arquivos comunitários e seus diálogos com dinâmicas documentais quilombolas

Abstract

Na Arquivologia, teóricos têm discutido o que se denomina Arquivos Comunitários, compreendidos como respostas aos movimentos sociais das décadas de 1970 e 1980. No Brasil, observa-se que foi no seio do movimento negro que se iniciaram as lutas pela valorização das identidades negras e pelo reconhecimento dos territórios quilombolas. Contudo, ao longo do tempo, as próprias comunidades quilombolas passaram a assumir o protagonismo de su-as demandas, articulando-se na defesa de seus territórios e na afirmação de suas identidades. Esta tese teve como objetivo analisar dinâmicas dos documentos de comunidades quilombolas brasileiras, a partir das discussões sobre arquivos comunitários. Para tanto, definiram-se os seguintes objetivos específicos: (1) entender os discursos que atravessam os arquivos comunitários; (2) explorar dinâmicas documentais em comunidades quilombolas; (3) articular os arquivos comunitários e as dinâmicas documentais de comunidades quilombolas brasileiras. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza básica, com objetivos exploratórios e descritivos. Os procedimentos de coleta de dados envolveram pesquisa documental e bibliográfica, com o corpus selecionado em periódicos internacionais e em base de dados nacional. A análise seguiu a desconstrução de Derrida e empregou, como complemento, o método indiciário de Ginzburg. A pesquisa desconstruiu dicotomias presentes nos estudos sobre arquivos comunitários e propôs o arquivo como espaço aberto e polifônico. A partir disso, exploraram-se as dinâmicas documentais quilombolas em três eixos: trajetória histórica e social; processos de certificação e de titulação; e uma amostra de documentos produzi-dos nas comunidades. As dinâmicas documentais em comunidades quilombolas brasileiras expressam movimentos que rompem com o monopólio oficial e se articulam aos arquivos comunitários em seis eixos: (1) demanda social por justiça; (2) redes colaborativas locais; (3) uso político dos documentos; (4) descentralização e protagonismo na guarda; (5) pluralidade de formatos; e (6) crítica às concepções tradicionais da arquivística, abrindo diálogo com outros campos. Ao final, percebe-se que os registros em comunidades quilombolas nascem de práticas coletivas e expressam lutas por território, reconhecimento, memória e justiça. Isso exige uma Arquivologia mais crítica, plural e conectada às realidades sociais. As noções ampliadas de proveniência, de arquivo e de documento ajudam a orientar essas dinâmicas e outros contextos de formação de arquivos dessa natureza, presentes no Brasil.

Abstract: In Archival Science, theorists have discussed what is called Community Archives, understood as responses to the social movements of the 1970s and 1980s. In Brazil, it is observed that it was within the Black movement that the struggles for the appreciation of Black identities and for the recognition of quilombola territories began. However, over time, the quilombola communities themselves began to take the lead in their demands, articulating in defense of their territories and in the affirmation of their identities. This thesis aimed to analyze the dynamics of documents from Brazilian quilombola communities, based on discussions about community archives. To this end, the following specific objectives were defined: (1) to understand the discourses that permeate community archives; (2) to explore documentary dynamics in quilombola communities; (3) to articulate community archives with the documentary dynamics of Brazilian quilombola communities. It is a qualitative, basic research with exploratory and descriptive objectives. Data collection procedures involved documentary and biblio-graphic research, with the corpus selected from international journals and national databases. The analysis followed Derrida?s deconstruction and, as a complement, employed Ginzburg?s evidential paradigm. The research deconstructed dichotomies present in studies on community archives and proposed the archive as an open and polyphonic space. Based on this, the documentary dynamics of quilombola communities were explored in three axes: historical and social trajectory; certification and titling processes; and a sample of documents produced within the communities. The documentary dynamics in Brazilian quilombola communities ex-press movements that break with the official monopoly and align with community archives through six axes: (1) social demand for justice; (2) local collaborative networks; (3) political use of documents; (4) decentralization and protagonism in custody; (5) plurality of formats; and (6) critique of traditional archival concepts, opening dialogue with other fields.In the end, it is evident that records in quilombola communities emerge from collective practices and ex-press struggles for land, recognition, memory, and justice. This demands a more critical, plural, and socially connected Archival Science. The expanded notions of provenance, archive, and document help guide these dynamics and other contexts of archival formation of this nature in Brazil.