Abstract:
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O livro A Festa, publicado por Ivan Ângelo em 1976, é uma obra marcante na literatura
brasileira da década. Por um lado, seu caráter experimental é bem salientado: o livro transita
entre o conto e o romance, mas dialoga também com a crônica jornalística e a linguagem do
cinema, mantendo ainda uma explícita preocupação com a metalinguagem, que pontua as
intervenções do narrador como personagem. Podemos dizer que esse experimentalismo está
baseado – em termos de técnica ou procedimento – no processo de montagem e na relevância
da edição, aspectos decisivos para a elaboração do enredo, da voz narrativa, da cronologia dos
eventos etc. Por outro lado, é inegável o viés crítico da obra, sendo sintoma de uma realidade
instável, perversa e permeada de rompimentos com as estruturas vigentes, fruto da instauração
do golpe cívico-militar em 1964. Nesse sentido, a hipótese é que, em tempos de crise, a
literatura se vê forçada à reinvenção e à experimentação como resposta, como forma de
invenção de uma saída possível, como a história das vanguardas também mostrou. Assim, A
Festa contém, em sua base, um funcionamento caleidoscópico, lançando mão da saturação de
recursos estilísticos como uma tentativa de lidar com a ausência (de ar, de liberdade, de
experiência), mas evitando a obviedade da denúncia demagógica ou panfletária, muito
presente em outras obras da época. A leitura em minúcias e a análise da estrutura
experimental do livro e do seu funcionamento mostram como “a festa” acontece em termos de
estrutura narrativa, contendo uma espécie de “teoria da festa”: como este romance pode ser
também um ensaio sobre o romance, colocando em jogo uma concepção da literatura como
festa que traz implicações críticas sobre o contexto histórico. |