Abstract:
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A dislipidemia é uma condição clínica caracterizada por alterações nos níveis plasmáticos de lipídeos ou lipoproteínas, com valores das dosagens laboratoriais fora dos limites considerados normais para a faixa etária correspondente. Pode ser classificada como primária, quando de origem genética, ou secundária, quando associada a fatores externos, como alimentação inadequada, sedentarismo, obesidade e outras condições metabólicas. Por se tratar de um fator de risco modificável, o diagnóstico precoce da dislipidemia, especialmente em crianças e adolescentes, é fundamental para a prevenção de doenças cardiovasculares na vida adulta. Este trabalho teve como objetivo geral analisar estudos científicos que investigaram a relação entre a composição corporal e o perfil lipídico em crianças e adolescentes, a fim de compreender como o peso influencia na ocorrência de dislipidemias. A revisão de literatura abrange os principais conceitos relacionados aos lipídeos, lipoproteínas e suas vias metabólicas, bem como os parâmetros laboratoriais utilizados para a avaliação do perfil lipídico, como colesterol total, LDL-c, HDL-c e triglicerídeos. Foram utilizados o termo de busca “dislipidemia infantil” exclusivamente em português nas bases de dados SciELO e outras disponíveis no Portal de Periódicos da CAPES. Os critérios de inclusão contemplaram artigos originais recentes disponíveis na íntegra e que atendessem aos objetivos do estudo. Foram selecionados artigos que incluíssem crianças acima de 4 anos e/ou adolescentes até 19 anos. Excluíram-se artigos desatualizados, resumos, revisões, editoriais, cartas aos editores, relatos de caso, bem como artigos em idiomas diferentes de português, inglês e espanhol. Os estudos analisados, sete realizados no Brasil e dois em outros países da América do Sul, indicam uma associação significativa entre a composição corporal e alterações no perfil lipídico, com destaque para o aumento dos níveis de LDL-c, triglicerídeos e a redução do HDL-c. Cinco trabalhos foram desenvolvidos com pacientes de ambulatórios clínicos, enquanto quatro na população escolar. A correlação positiva entre obesidade e triglicerídeo elevado foi comprovada em estudos ambulatoriais. Estudos em escolares no Brasil e no Equador apontaram frequência de sobrepeso e obesidade pouco diferente (38% e 29,3%, respectivamente), mas com diferenças marcantes nos níveis elevados de triglicerídeos (4,1% e 45,7% respectivamente). Fatores como padrões alimentares inadequados, baixa atividade física, resistência insulínica e histórico familiar foram apontados como influências diretas sobre os níveis lipídicos e destacados em alguns dos trabalhos analisados. De modo geral, observou-se limitação nas comparações entre os estudos devido à heterogeneidade metodológica. Aponta-se para a necessidade de novos estudos para quantificar e qualificar a relação entre o excesso de peso e dislipidemia infantil. A prevenção e o controle da dislipidemia devem ser iniciados ainda na infância, com ênfase na promoção de hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática regular de atividade física. Reforça-se a importância da triagem laboratorial, especialmente em indivíduos pertencentes a grupos de risco, como aqueles com sobrepeso e obesidade. A identificação precoce de alterações no perfil lipídico, associada ao acompanhamento clínico e multiprofissional, pode contribuir significativamente para a redução do risco cardiovascular futuro e para a melhoria da qualidade de vida da população pediátrica. |