Entre o civismo e o militarismo: o modelo educacional cívico-militar em escolas da Grande Florianópolis

Abstract

Este trabalho busca investigar e compreender, sob uma perspectiva crítica, o modelo educacional das Escolas Cívico-Militares (ECIM) no Brasil e as particularidades da militarização escolar com ênfase em duas escolas da Grande Florianópolis. Para isso, partimos do pressuposto de que a militarização é reflexo de um processo histórico de desvalorização docente e de coalizões políticas do campo político de direita. A partir da literatura, articulamos autores como Pierre Bourdieu (1930-2002), Michael Apple (1942-) e Celso Castro (1963-) para analisarmos as ECIM como um campo de disputa, onde se reproduzem desigualdades por meio da violência simbólica e lógicas meritocráticas. A metodologia se deu na análise documental dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, de legislações vigentes e de materiais midiáticos. Com isso, observamos que, embora os documentos adotem alguns discursos pedagógicos de princípios progressistas, a prática institucional revela contradições com esses princípios, sobretudo pela atuação de militares inseridos no ambiente escolar, em que o modelo cívico-militar desconsidera o contexto econômico e social dos estudantes e reforça o controle pelo autoritarismo. Destacamos, portanto, a necessidade de políticas públicas comprometidas com a valorização discente e docente e pela gestão democrática do ensino.

This study aims to investigate and critically understand the educational model of Civic-Military Schools (ECIM) in Brazil and the particularities of school militarization, with an emphasis on two schools in the Greater Florianópolis area. To do so, we begin with the assumption that militarization is a reflection of a historical process of teacher devaluation and political coalitions aligned with the right-wing field. Based on the literature, we draw on authors such as Pierre Bourdieu (1930–2002), Michael Apple (1942–), and Celso Castro (1963–) to analyze ECIM as a field of dispute, where inequalities are reproduced through symbolic violence and meritocratic logics. The methodology is based on the document analysis of the schools’ Political-Pedagogical Projects (PPP), relevant legislation, and media materials. We observed that, although the official documents adopt pedagogical discourses rooted in progressive principles, institutional practice reveals contradictions with these principles, especially due to the presence of military personnel in the school environment, where the civic-military model disregards the students’ socioeconomic context and reinforces authoritarian control. We therefore highlight the need for public policies committed to the appreciation of students and teachers and to the democratic management of education.