Criação e conservação do compartilhamento de bens comuns pelos camponeses agroflorestais na Ilha do Capim (PA): uma abordagem da Heurística Crítica de Sistemas

Abstract

O Sistema Social Ecológico (SES) de compartilhamento de bens comuns é um enquadramento institucional que concilia a produção econômica à conservação ecológica no bioma amazônico. Compreender como esses sistemas são criados e conservados pelos camponeses ao longo do tempo é de valor inestimável para abordar os desafios enfrentados por esses atores e promover a sustentabilidade do bioma. Atualmente, explicações científicas sobre a criação e conservação do enquadramento institucional do SES de compartilhamento de bens comuns são consideradas insuficientes pelos próprios formuladores. Para abordar essas insuficiências explicativas, foi realizada uma pesquisa-ação-crítica utilizando os recursos teórico-metodológicos da Heurística Crítica de Sistemas (CHS), que pertencem ao Pensamento Sistêmico Crítico (PCS), na vertente da crítica de limites. A pesquisa levantou a hipótese de que a criação e a conservação do enquadramento institucional do SES de compartilhamento de bens comuns poderiam emergir através da prática reflexiva da conversação de terceira ordem 4 caracterizada pela conversação contínua em torno de seus julgamentos de limite. Utilizando os recursos da HCS, o estudo distinguiu e examinou as diferenças críticas entre os julgamentos normativos de limite do compartilhamento de bens comuns e os enquadramentos institucionais alternativos, observando como sua criação poderia ocorrer em espaços públicos de tomada de decisão e nas experiências vividas pelos camponeses amazônicos. Os resultados indicam que o enquadramento institucional do compartilhamento de bens comuns pode ser criado através da prática reflexiva da conversação de terceira ordem em torno dos julgamentos normativos de limite nas experiências vividas socialmente e nos contextos de tomada de decisão pública. Além disso, a organização e os limites empíricos do enquadramento institucional do SES de compartilhamento de bens comuns foram distinguidos e aplicados por meio de designs criativos para observar sua conservação ao longo do tempo. Os resultados também revelam que a conservação do enquadramento institucional de compartilhamento de bens comuns ao longo do tempo pode ocorrer por meio da prática reflexiva da conversação de terceira ordem em torno dos julgamentos de limite empíricos que a definem. Assim, a pesquisa válida a hipótese, demonstrando que a prática reflexiva da conversação de terceira ordem pode criar (normativamente) e conservar (empiricamente) o SES de compartilhamento de bens comuns.

Abstract: The Social-Ecological System (SES) of sharing common goods is an institutional framework that reconciles economic production with ecological conservation in the Amazon biome. Understanding how these SES are created and conserved by farmers over time is of inestimable value for addressing the challenges faced by these actors and promoting the sustainability of the biome. Currently, scientific explanations about the creation and conservation of the institutional framework of the SES of sharing common goods are deemed insufficient by their own formulators. To address these explanatory shortcomings, a critical action research was conducted using the theoretical-methodological resources of Critical Systems Heuristics (CSH), which belong to Critical Systems Thinking (CST), within the context of the critique of limits. The research hypothesized that the creation and conservation of the institutional framework of the SES of sharing common goods could emerge through the reflexive practice of third-order conversations 4 characterized by continuous conversations around their boundary judgments. Using CSH resources, the study distinguished and examined the critical differences between the normative boundary judgments of sharing common goods and alternative institutional frameworks, observing how their creation could occur in public decision-making spaces and in the lived experiences of Amazonian peasants. The results indicate that the institutional framework of sharing common goods can be created through the reflexive practice of third-order conversation around normative boundary judgments within socially lived experiences and public decision-making contexts. Furthermore, the organization and empirical limits of the institutional framework of the SES of sharing common goods were distinguished and applied through creative designs to observe its conservation over time. The results also reveal that the conservation of the institutional framework of sharing common goods over time can occur through the reflexive practice of third-order conversation around empirical boundary judgments that define it. Thus, the research validates the hypothesis, demonstrating that the reflexive practice of third-order conversation can create (normatively) and conserve (empirically) the SES of sharing common goods.