Abstract:
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A crescente exposição ao fenômeno da medicalização vincula-se aos atravessamentos de
marcadores sociais da diferença e expande-se cada vez mais para as classes populares, rurais e
indígenas, especialmente para o público feminino. No âmbito educacional, essa lógica
medicalizante surge como a única solução para o fracasso escolar, que é erroneamente
atribuído a disfunções do próprio estudante. Este cenário se insere em um sistema econômico
neoliberal, onde questões sociais, culturais e políticas são transformadas em problemas
psíquicos individuais, muitas vezes mascarando as desigualdades estruturais influenciadas por
marcadores sociais da diferença. O objetivo geral do trabalho é questionar de que modo os
profissionais da educação básica percebem a influência dos marcadores sociais da diferença
no sofrimento psíquico dos estudantes, no marco do neoliberalismo. Para isso, o estudo
buscou: explorar como esses profissionais associam marcadores sociais e o contexto
neoliberal à saúde mental dos estudantes; refletir sobre suas opiniões acerca do uso de
diagnósticos e práticas de medicalização no cotidiano escolar; e analisar suas percepções a
respeito dos impactos do "modo de ser e de pensar" neoliberal na saúde mental dos alunos. O
estudo confirmou a hipótese central, de que, embora os profissionais da educação reconheçam
o papel dos marcadores sociais no sofrimento psíquico e os determinantes sociais da saúde
mental, eles tendem a reproduzir a crença de que a ampliação do sofrimento psíquico se deve
a vulnerabilidades pessoais, priorizando respostas individualizadas sob a perspectiva do
modelo médico dos diagnósticos e terapêuticas, em detrimento de análises e intervenções
estruturais. Além disso, foi constatado um reconhecimento generalizado do aumento do
sofrimento psíquico e do uso de medicamentos psiquiátricos entre os estudantes nos últimos
anos. Conclui-se que há persistência da hegemonia do modelo biomédico no imaginário dos
profissionais entrevistados, a internalização da ideologia neoliberal e o risco da "armadilha
identitária", que reconhece identidades, mas não se traduz em crítica às práticas
discriminatórias. |