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O presente trabalho analisa a produção desigual do espaço urbano em Porto
Alegre e a sua relação com a percepção do risco dos que viveram o desastre, a
partir das inundações ocorridas no primeiro semestre de 2024. Parte-se da
concepção de que os desastres não são naturais, mas socialmente construídos,
expressando vulnerabilidades acumuladas no tempo e reforçadas por políticas
públicas excludentes. A pesquisa adota abordagem qualitativa e quantitativa,
utilizando dados secundários, análises espaciais, entrevistas com moradores e
levantamento por formulário on-line. Identificou-se que as populações mais afetadas
pertencem majoritariamente a grupos sociais já vulnerabilizados pela ausência de
infraestrutura, saneamento, políticas de prevenção e acesso à informação. A
percepção do risco revelou-se mais desenvolvida entre moradores que convivem
cotidianamente com a ameaça, enquanto grupos com maior suporte institucional
demonstraram surpresa diante da emergência. Observou-se que o sistema de
contenção de inundações foi ineficaz e falho principalmente em regiões periféricas,
onde residem majoritariamente pessoas negras e de baixa renda. A omissão do
Estado e a desinformação agravaram os impactos, evidenciando uma relação entre
território, desigualdade e capacidade de resposta. O trabalho ainda discute como a
reconstrução tem sido conduzida sob diretrizes neoliberais, negligenciando o debate
sobre justiça socioespacial. Conclui-se que a compreensão das dinâmicas de risco e
vulnerabilidade exige o reconhecimento da centralidade do território na vida dos
sujeitos e do papel do Estado na reprodução das desigualdades urbanas. |
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