Abstract:
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Este trabalho investiga o papel das imagens na construção da memória histórica dos
escravizados no Brasil durante o Segundo Império. Argumenta-se que as
representações visuais, desde a pintura até a fotografia, operaram como dispositivos
de controle e silenciamento, empregadas pelo Estado para forjar uma memória
oficial eurocêntrica que naturalizava a violência do cativeiro. A metodologia utilizada
pauta-se em uma leitura crítica do arquivo visual, mobilizando conceitos como o
“inconsciente óptico” de Walter Benjamin e a “sobrevivência do rastro” de Georges
Didi-Huberman, buscando nas fissuras e contradições das imagens os vestígios da
agência e da barbárie subjacente. Os resultados da pesquisa demonstram que,
embora a produção visual imperial visasse o apagamento sistemático das
experiências dos escravizados, as imagens carregam em si elementos que
subvertem a narrativa dominante, revelando subjetividades e a violência do
corpo-mercadoria, especialmente em retratos de estúdio e anúncios. Conclui-se que
a leitura “a contrapelo” dessas imagens é fundamental para desvelar um passado
não reconciliado, contribuindo para a compreensão das raízes das desigualdades
presentes e para o imperativo da reparação histórica. |