Didática da vivência: atmosferas para ensinar, aprender e curar com massagem

Abstract

Esta pesquisa se concentra no estudo do ensino e da aprendizagem de um método específico de massagem. É indispensável para esse método a vivência como um meio de aprender aquilo que só vivendo se aprende, ou seja, os alunos precisam viver nos corpos a prática da massagem. Esse processo, por si só, já é um cultivo de si, pois parte da ideia de que a massagem em si cria e cultiva o próprio terapeuta. Aliadas a isso, uma dieta específica e outras práticas corporais aparecem como suportes desse cultivo de si durante a formação. É vital, para o encadeamento desse ensino e aprendizagem, um ambiente propício para que ele aconteça, nesse sentido é que a criação de uma atmosfera é fundamental. Essa atmosfera é multissensorial, composta de elementos como aromas, controle da temperatura da sala e de óleos de acordo com a estação, bem como uma ordem e assepsia do material sobre o qual os alunos se deitam para aprender. Todo o conjunto que compõe a atmosfera, além de tornar possível o ensino e aprendizagem, é o que o aluno aprende na prática para recriar em seus atendimentos. A atmosfera criada possibilita a manifestação da Guidança, conceito utilizado por Gisele de Menezes, idealizadora dessa massagem, que diz respeito a uma comunicação com um campo invisível, intuitivo e espiritual capaz de orientar cada massagem em direção à cura. A pesquisa também desencadeia uma reflexão advinda da antropologia da performance para pensar movimento, gesto, escuta, oralidade e percepção intuitiva do aprendizado como elementos performativos capazes de causar uma metamorfose nos participantes dessa prática corporal, sejam estudantes do curso ou já na relação terapeuta/paciente. A partir dessas reflexões, o trabalho desagua em criações de performances como suporte de conhecimento, podendo trazer contribuições para a apresentação de dados e pesquisas na antropologia. A pesquisa discute o caráter vivo e criativo dessa massagem, que sugere a seus aprendizes um momento de maturação, ruptura e atualizações do próprio método, dando espaço para o terapeuta experimentar a massagem mudar na mão para criar seu próprio modo de fazer.

This study investigates the pedagogical processes involved in the transmission and acquisition of a specific massage method. Central to this approach is the premise that lived experience constitutes an essential mode of learning, particularly for knowledge that can only be accessed through embodiment. In this context, students are required to engage with the massage practice through direct bodily experience, emphasizing the corporeal dimension as a foundational locus of learning. This experiential engagement simultaneously functions as a practice of self- cultivation, grounded in the understanding that the act of massaging contributes to the formation and refinement of the therapist themself. Complementary to this process, a prescribed diet and additional bodily practices serve as supportive elements throughout the course, reinforcing this formative trajectory. Equally integral to the pedagogical framework is the creation of a suitable and responsive environment, one that facilitates the teaching and learning processes. In this regard, the deliberate construction of a multisensory atmosphere emerges as a key pedagogical strategy. This atmosphere comprises elements such as ambient scents, seasonal adjustments to room and oil temperatures, and meticulous attention to cleanliness and spatial organization— particularly in the arrangement of the materials upon which students lie to receive instruction. This carefully orchestrated environment not only enables learning but also constitutes a practical component of the curriculum, as students are trained to replicate such atmospheres in their future therapeutic work. It is within this context that the phenomenon of Guidance becomes manifest—a concept introduced by Gisele de Menezes, the creator of this massage technique. Guidance refers to a communicative interaction with an invisible, intuitive, and spiritual field, which is understood to orient each massage session toward healing. The study further draws upon theoretical contributions from performance anthropology to interrogate the roles of movement, gesture, listening, orality, and intuitive perception as performative dimensions of learning. These elements are considered capable of engendering transformative experiences in participants—be they students in training or practitioners engaged in therapeutic encounters. Through these theoretical and methodological reflections, the research unfolds into the development of performance-based creations as epistemological tools, offering alternative modes for the generation and presentation of anthropological knowledge. In conclusion, the study articulates the living, dynamic, and creative character of this massage method, which proposes to its learners a space of maturation, rupture, and continual renewal. It foregrounds a pedagogical orientation that allows the therapist to witness the massage evolve in their own hands, thereby fostering the emergence of individualized and situated therapeutic practices.