Alfabetização financeira e bem-estar financeiro: um estudo com mulheres horticultoras de Guiné-Bissau

Abstract

A alfabetização financeira tem ganhado destaque no cenário internacional como uma estratégia essencial para o enfrentamento da vulnerabilidade econômica e para a promoção do bem-estar financeiro em populações marginalizadas. Neste contexto, este estudo teve como objetivo analisar o impacto da alfabetização financeira no bem-estar financeiro das mulheres horticultoras de Guiné-Bissau. A alfabetização financeira foi compreendida como um construto multidimensional, composto por conhecimento, atitude e comportamento financeiro. O bem-estar financeiro foi avaliado a partir da percepção das participantes sobre sua situação financeira, capacidade de lidar com imprevistos e planejamento futuro. A pesquisa adotou abordagem quantitativa, por meio da aplicação de questionários estruturados, e envolveu análise estatística descritiva, testes de associação e regressões lineares múltiplas. Os resultados indicaram que a alfabetização financeira exerce um efeito positivo e estatisticamente significativo sobre o bem-estar financeiro, sendo capaz de explicar aproximadamente 7,7% da sua variância. Entre os três componentes da alfabetização financeira, o comportamento apresentou os maiores escores, enquanto o conhecimento financeiro foi o mais deficiente. Diferenças significativas também foram observadas em função da escolaridade, presença de dívidas, recebimento de auxílio governamental e hábito de controle de gastos. A variável inclusão financeira, quando percebida em níveis elevados, esteve associada a maiores níveis de bem-estar. Apesar das contribuições da pesquisa, identificou-se uma limitação importante na mensuração do conhecimento financeiro, cujos itens não estavam totalmente adaptados à realidade local. Conclui-se que a alfabetização financeira, quando combinada a políticas de inclusão e apoio institucional, pode contribuir significativamente para a promoção do bem-estar financeiro de mulheres em contextos de vulnerabilidade. Os achados podem subsidiar ações educativas e políticas públicas voltadas à capacitação e valorização econômica dessa população.

Abstract: Financial literacy has gained prominence in the international agenda as a key strategy for addressing economic vulnerability and promoting financial well-being among marginalized populations. In this context, the present study aimed to analyze the impact of financial literacy on the financial well-being of female horticulturists in Guinea-Bissau. Financial literacy was conceptualized as a multidimensional construct, encompassing financial knowledge, attitudes, and behaviors. Financial well-being was assessed based on the participants? perceptions of their financial situation, ability to cope with unforeseen expenses, and future planning. This quantitative research employed structured questionnaires and included descriptive statistical analysis, association tests, and multiple linear regressions. The results indicate that financial literacy has a positive and statistically significant effect on financial well-being, explaining approximately 7.7% of its variance. Among the three components of financial literacy, financial behavior scored highest, while financial knowledge was the most deficient. Significant differences were also observed in relation to educational level, debt status, receipt of government assistance, and spending control habits. Financial inclusion, when perceived as high, was associated with greater levels of financial well-being. Despite the study's contributions, an important limitation was identified in the measurement of financial knowledge, as several items were not fully adapted to the local context. It is concluded that financial literacy, when combined with inclusive policies and institutional support, can significantly contribute to improving financial well-being among women in vulnerable contexts. The findings can inform educational initiatives and public policies aimed at empowering and economically strengthening this population.