Abstract:
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Este trabalho apresenta uma leitura comparativa entre o romance Água viva, de Clarice Lispector, com alguns poemas de Pedra do sono, de João Cabral de Melo Neto, sob a perspectiva da existência pensada por alguns leitores de Martín Heidegger. Com base em Água viva e Pedra do sono, refletimos a problemática do Ser (Dasein), abordada pelo filósofo e repensada pelos escritores literários. Pensamos a existência do Dasein, a partir do que restou do Ser, presente nos textos literários, e na maneira como o "Ser" se dá entre os seres nas obras citadas. Portanto, lemos esses textos, amparando-nos na abordagem do Ser feita por Heidegger, e toda a discussão apresentada pelo filósofo e leitores de sua teoria, para compreender a escrita de Clarice Lispector e de João Cabral de Melo Neto. Convém lembrar que os textos literários desses autores não obedecem às leis do gênero a que remetem, e foram escritos em um período em que ocorreram profundas transformações na sociedade, por isso, são carregados de marcas históricas sociais. Buscamos, por intermédio desses textos literários, compreender a relação entre eles e a modernidade. Lispector e Cabral, dois autores distintos em bibliografia, inauguram linguagens: ele, um artesão da palavra e ela, uma autora que trabalha as possibilidades da linguagem, e dessa forma, aproximam-nos das coisas e do mundo. Em virtude disso, buscamos analisar as obras, a fim de, posteriormente, compará-las entre si, e com a teoria, levando em consideração o contexto e a história. Percebemos deste modo que Lispector e Cabral empregam as palavras não com o seu sentido original, mas tentam dar a essas palavras um sentido diferente, recriado imagens que nos levam a vivenciar outras sensações, estimuladas por essa linguagem com que nos deparamos. |