Abstract:
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O objetivo principal dessa pesquisa foi identificar características dos modelos culturais nas crenças e práticas de mães residentes em dois contextos e sua relação com o desenvolvimento do self, nas tarefas de autorreconhecimento e autorregulação. Participaram do estudo 88 díades (mãe/criança). As mães eram maiores de 18 anos com um filho na idade entre 18 e 20 meses, (50 eram residentes na cidade de Itajaí em Santa Catarina e 38 na cidade do Rio de Janeiro). As mesmas foram entrevistadas, individualmente, através de escalas de Alocentrismo Familiar, Crenças sobre Práticas de Cuidado, Metas de Socialização e o Inventário de Linguagem sobre o self. As crianças foram filmadas durante as tarefas de autorreconhecimento (teste rouge) e autorregulação. Foram realizadas análises de comparação de média, correlações de Pearson e análise de regressão. Os resultados indicaram que as mães em ambos os contextos apresentam trajetória autonôma-relacional, ou seja, em que são valorizados aspectos que enfatizam tanto as metas pessoais (focando-se nas necessidades e direitos do indivíduo) como grupais (relacionadas com papéis sociais, deveres e obrigações). Em relação aos pronomes mais falados e compreendidos os resultados mostraram que são aqueles referentes ao self da criança e os menos falados são relativos à noção de coletivo. Na tarefa de autorreconhecimento 51(58%) das crianças apresentaram autorreconhecimento e em relação à autorregulação apenas 36 (40,9%) crianças apresentaram autorregulação. Através da análise de regressão constatou-se que as variáveis local de moradia e sexo da criança focal foram os fatores com maior poder preditivo em relação ao autorreconhecimento. Os melhores desempenhos foram das meninas e pelas crianças residentes em Itajaí. O sexo da criança focal e a idade da mãe apresentaram efeito preditivo da autorregulação. Além disso, as variáveis Práticas Relacionais, Razão de Metas e Classificação de Práticas apresentaram poderes preditivos em relação a autorregulação, sendo que a Razão de Metas foi a que obteve o maior poder preditor, seguida das Práticas Relacionais. Ou seja, quanto mais relacional forem as práticas das mães maior a probabilidade da criança apresentar autorregulação. Nesse sentido, comprovou-se que o contexto de residência pode ser considerado uma variável relevante na modulação das crenças maternas. Além disso, parece haver certa discrepância entre o que elas pensam sobre seus filhos (metas de socialização) em relação ao que elas fazem (práticas de criação de filhos no primeiro ano). O estudo fornece indícios para a existência de diferentes modelos culturais de parentalidade e de uma relação dinâmica entre o cuidado parental e o desenvolvimento infantil. |