Abstract:
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O funcionamento da escrita na ciência e em aulas de ciências, por coletivos de cientistas e estudantes, foi objeto de nosso estudo. Para formulação do problema, o seu enfrentamento e as interpretações realizadas na pesquisa nos orientamos pelo diálogo com autores dos aportes teóricos da Sociogênese do Conhecimento, especialmente o epistemólogo Ludwik Fleck, e da Análise de Discurso da linha francesa. Destas perspectivas, enunciamos a nossa compreensão para as relações entre ciência e linguagem e formulamos a pergunta de pesquisa: "Quais condições de produção da escrita de cientistas podem ser constitutivas do desenvolvimento de conhecimentos científicos e de que modo seus condicionantes podem orientar o funcionamento e/ou análise da escrita de estudantes em aulas de ciências na escola?" O estudo foi realizado por meio de dois percursos, uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo em um contexto escolar. Por conseguinte, tomando, por exemplo, uma análise da interlocução entre Fritz Müller e Charles Darwin, na investigação do movimento das plantas trepadeiras, interpretamos que a circulação escrita de sentidos entre e com outros coletivos de pensamento, no enfrentamento dos problemas de pesquisas, é condicionante fundamental no desenvolvimento de conhecimentos científicos e do próprio modo de conhecer na ciência. Na sequência, propomos aproximações e relações desta conclusão com o contexto escolar a fim de orientar o funcionamento e/ou análise da escrita de estudantes em aulas de ciências. Com base nisso, vivenciamos com um coletivo de estudantes e seu professor de uma escola da rede pública de ensino, da cidade de Blumenau/SC, o estudo de um projeto cujo tema era os insetos. Neste contexto, a partir da proposição de um problema de investigação significativo aos estudantes buscamos analisar como funcionou a circulação escrita de sentidos entre os sujeitos do coletivo e com outros coletivos distintos do seu, mais próximos do círculo esotérico (cientistas), na busca de soluções para as suas perguntas. Nossas interpretações permitiram formular a tese de que a circulação escrita de sentidos intracoletiva e intercoletiva em aulas de ciências é fundamental para o desenvolvimento de conhecimentos científicos e a transformação de um estilo de pensamento dos estudantes, contribuindo para seus gestos de interpretação na função de sujeitos-autores e, com isso, favorecendo a complexificação das suas explicações e relações com mundo, no mundo e com os outros em uma cultura tecnocientífica e letrada. No estudo também organizamos um estado da arte da investigação em Educação Científica, caracterizando quais são as compreensões e as práticas de pesquisadores brasileiros que têm sido mediadoras do desenvolvimento de conhecimentos científicos sobre as relações entre a escrita e aprender ciências. Além do circulo esotérico, esta análise também podem ser de utilidade para professores e formadores de professores, quando situados no circulo exotérico, uma vez que se pode ampliar o debate dos resultados das pesquisas e as suas relações com a prática docente, potencializando perspectivas para o funcionamento da escrita em aulas de ciências, pelo ensino e pela pesquisa. |