Abstract:
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O estudo tem como tema o ensino de ciências naturais no contexto da pedagogia Waldorf, abarcando especificidades oriundas da ocorrência desse ensino no cenário brasileiro. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual foi utilizada como referência teórico-metodológica a Análise de Discurso da linha francesa, em consonância com os Estudos CTS, particularmente aqueles sobre Educação CTS na perspectiva Latino-americana. A pedagogia Waldorf é considerada uma proposta educacional alternativa, foi criada em 1919 por Rudolf Steiner, na Alemanha. Dentre as principais características dessa pedagogia ? e que a distingue de outras ? estão: consideração de uma dimensão espiritual à constituição do ser humano, ensino organizado em períodos de ?imersão? (épocas), abordagem permeada pelas artes, e educação científica de base fenomenológica. A fundamentação da pedagogia Waldorf está na construção filosófica elaborada por Steiner, a antroposofia, que agrega um idealismo objetivo ? interpretado a partir da atividade científica de Goethe ? e um monismo, que tem como princípio o pensar. Essa fundamentação teórico-filosófica possibilitou reflexões de ordem epistemológica, uma vez que a noção antroposófica de ciência não atende a critérios de cientificidade modernos. O currículo e a metodologia de ensino Waldorf de ciências foram configurados a partir da consideração de uma teoria de desenvolvimento humano (antropologia antroposófica), vinculando a forma e o conteúdo de ensino à faixa etária do educando, com o intuito de promover uma harmonia entre cognição, sentimento e volição. O ensino Waldorf de ciências se distingue por seu embasamento na fenomenologia da natureza (de Goethe), por uma prática que apela aos sentimentos do aluno, através de experimentos e/ou narrativas, os quais dariam subsídios para desenvolver a capacidade de julgar e para estabelecer relações amplas entre o ser humano e o mundo ? principalmente a partir dos 12 anos de idade. No processo de ensino-aprendizagem, o papel do professor Waldorf estaria mais vinculado à formação humanista do que à transmissão-memorização de conteúdos. Esses e outros aspectos possibilitaram reflexões de ordem didática. Enunciados de professores Waldorf foram analisados, considerando as condições de produção do movimento do ensino Waldorf de ciências no Brasil. Essas análises possibilitaram reflexões de ordem ideológica, na tentativa de compreender como os sujeitos-professores se constituem/posicionam diante de duas formações discursivas delineadas, a antroposófica e a acadêmica. Em linhas gerais, notou-se que a pedagogização do conhecimento escolar científico Waldorf, desde o contexto de Steiner até o contexto atual brasileiro, é um processo bastante parafrástico, que repete elementos teóricos da antroposofia e carrega traços culturais alemães, a não ser pelo potencial reflexivo ou de resistência por parte dos professores que não se filiaram completamente ao discurso antroposófico, os mais jovens e pouco experientes na pedagogia Waldorf. A interpretação do referido processo também possibilitou reflexões de ordem histórica e cultural, problematizando no ensino Waldorf de ciências a pressuposição de universalidade dos saberes e o caráter prescritivo dos materiais disponibilizados aos professores, por exemplo, especialmente quando se assume a importância de propor ações educativas situadas, coerentes com as realidades/necessidades locais. <br>
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