Abstract:
|
Pesquisas recentes em educação científica têm revelado que a integração de diferentes tipos de linguagens no ensino contribui significativamente na compreensão dos conhecimentos científicos. Em relação à química, pela dificuldade encontrada na descrição e interpretação dos fenômenos do mundo macro e submicroscópico, tal ciência apresenta uma linguagem peculiar e bastante diversificada. Dentre suas principais formas de comunicação, destaca-se a linguagem imagética, presente tanto no desenvolvimento das práticas químicas, como em processos de ensino e aprendizagem dessa ciência, onde a imagem se mostra como um importante recurso mediador. Em especial, na química orgânica, as representações moleculares são comumente utilizadas como forma de apreender e manipular a realidade molecular da química. Diante disso, esta dissertação tem como principal objetivo elucidar como as representações moleculares, enquanto conjuntos de signos, são utilizadas na comunicação dos conhecimentos introdutórios sobre ácidos e bases em livros-texto de química orgânica. Compreendemos os conhecimentos introdutórios sobre ácido e base como alicerces para o desenvolvimento de outros saberes relativos à essa área da química. Assim, baseando-se na teoria semiótica de Charles Sanders Peirce (1839-1914), analisar-se-á o que habilita um signo a agir como tal, e as relações sígnicas estabelecidas entre signo (representação) e objeto (representado), bem como o modo que os livros-texto se utilizam dos diferentes tipos de signos nas articulações realizadas na comunicação desses conhecimentos. Foram analisados 4 livros-texto de química orgânica para o Ensino Superior no que diz respeito aos conhecimentos sobre ácidos e bases. Todos os livros priorizaram a linguagem textual em detrimento da imagética. Em relação à composição dessas últimas, destaca-se que a comunicação dos conhecimentos sobre ácidos e bases ocorreu, majoritariamente, por meio de representações moleculares, que foram praticamente hegemônicas, apresentando um percentual de 94%, o que reforça a importância dessas representações no processo de comunicação dos saberes introdutórios sobre ácidos e bases em livros-texto de química orgânica. Em seguida, as representações moleculares foram agrupadas em cinco tipos: letra/letra; letra/bastão; Lewis; M.P.E.; e M.P.E. com bola/bastão, e os mesmos foram analisados e apresentados em nível crescente de iconicidade. Em todas as obras analisadas, as representações dos tipos tipo letra/letra e letra/bastão foram as mais utilizadas, ou seja, prevaleceu o caráter simbólico em tais representações. No percurso de análise das obras, foram observadas diferentes articulações entre tais representações, elucidando a ampla gama de possibilidades que essas desencadeiam no processo comunicativo da química, e em seu ensino. Não obstante, foi possível observar também que alguns possíveis equívocos ou concepções alternativas podem ser reforçadas pelo uso indiscriminado e sem problematização a respeito das representações, ou sem maiores reflexões e esclarecimentos acerca das formas de lê-las e delas extrair as informações que se deseja. Nesse sentido, destaca-se a pertinência das contribuições da semiótica peirceana, ressaltando a necessidade de novos olhares e novas posturas em relação ao papel das representações, e suas consequentes formas de interpretação, nos processos de comunicação dos conhecimentos de química, em especial, de química orgânica. Desencadeando, assim, reflexões no contexto do ensino dessa ciência e importantes contributos ao constante aprimoramento da prática docente à ela relacionada. |