Abstract:
|
A Iniciação Científica (IC) na história da educação brasileira, no âmbito da Educação Básica, constitui episódio recente. Localizamos na década de 1980 o desenvolvimento das primeiras propostas pensadas para esse contexto escolar, enquanto iniciativa de caráter público sem abrangência nacional. Até então, pensar uma iniciação à ciência era tarefa circunscrita aos ambientes universitários e/ou centros de pesquisas. Uma formação desse tipo, como política pública governamental, não possuía tradição envolvendo contextos escolares até a primeira década do século XXI, quando houve a institucionalização, em 2003, do Programa de Iniciação Científica Júnior (PICJ) e, em 2010, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM), dentre outros. Isso posto, tem a presente pesquisa como objetivo analisar a produção de sentidos acerca da Iniciação Científica em contexto escolar a partir da vivência de estudantes e docentes com a proposta pedagógica Pés na Estrada do Conhecimento Iniciação Científica na Escola , articulada no Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir dos estudos da Análise de Discurso de linha francesa especialmente a produção teórica de Michel Pêcheux (2011; 2012; 2014) e seus companheiros franceses e, no Brasil, sobretudo, os estudos de Eni Orlandi (2005; 2007; 2011; 2015; 2017) , colocamos em funcionamento reflexões a respeito dos dizeres e dos silêncios existentes em torno de uma prática pedagógica de Iniciação Científica na Educação Básica. No tocante à educação, sobretudo, a escolar, em seu quefazer crítico de comprometimento com transformações sociais, articulamos reflexões com os pensamentos de Paulo Freire (1983; 1996; 2005), Michael Apple (1989; 2017), dentre outros(as) educadores(as) e perspectivas críticas, como as que circulam no campo de discussões envolvendo ciência, tecnologia e sociedade (CTS) (CASSIANI, LINSINGEN, GIRALDI, 2011; LINSINGEN, 2007). Do ponto de vista metodológico, a pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, com aproximação da perspectiva etnográfica em contexto escolar. Tal escolha proporcionou profuso diálogo com professores-orientadores e estudantes-pesquisadores na dinâmica contextual analisada. A análise de entrevistas, questionários, rodas de conversas e documentos, de origem normativa e do acervo do projeto de IC, compuseram o corpus analítico do trabalho. Ao problematizarmos o discurso da formação de Jovens Talentos para a Ciência, base dos programas estatais para IC, apresentamos como hipótese o entendimento de que a IC articulada com a proposta pedagógica Pés na Estrada do Conhecimento Iniciação Científica na Escola constitui-se como deslocamento do sentido dominante existente sobre IC para a Educação Básica brasileira. Desse modo, com a pesquisa, sinalizamos a existência dos referidos deslocamentos de sentidos dominantes envolvendo IC na Educação Básica. Conseguimos identificar quatro dimensões de tais deslocamentos, as quais envolvem: (i) não alinhamento aos discursos de formação de jovens talentos para a ciência; (ii) a construção de um entendimento de uma IC na escola em detrimento de uma IC para a escola ; (iii) as especificidades dos lugares sociais e discursivos assumidos pelos sujeitos e (iv) a formação de professores e professoras na relação com a IC. Assim, inferimos que o não alinhamento ao discurso dos Jovens Talentos para a ciência e a filiação a uma formação discursiva de transformação social movimentam a circulação de sentidos acerca de um outro pensar sobre e com a escola. |