O que se revela quando o olhar não alcança?: em busca do acesso semio-cognitivo aos objetos do saber matemático por uma estudante cega

Abstract

O presente estudo aborda um tema sensível e urgente na Educação Matemática, trata de um estudo de caso com a participação de uma estudante cega. Dezenas de encontros com esta estudante foram programados e estão relatados e analisados nas páginas que seguem. Em foco, uma situação complexa: a aprendizagem matemática por uma estudante cega congênita. A análise dos encontros teve na Teoria dos Registros de Representação de Raymond Duval o principal aporte teórico que nos deu um caminho a ser seguido nas análises semióticas e cognitivas (análises semio-cognitivas) que fizemos. Mas não nos contentamos com isso, fomos buscar em Bernard Charlot, em sua Teoria da Relação com o Saber, outros elementos que pudessem iluminar ainda mais as nossas análises e encontramos situações em que as dimensões identitária e social da sua teoria completam de forma marcante a análise de cunho epistemológico, que era o que vínhamos fazendo até então, na relação com o saber. O nosso trabalho teve como protagonista principal uma única estudante cega, o que não nos permite generalizações. Mas não podemos esquecer que documentos, leis, livros, manuais escolares etc. foram também consultados para a elaboração dessa Tese. Finalmente, nas conclusões, apresentamos uma série de questões que detectamos e que precisam de aprofundamentos, entre as quais destacamos, a importância da forma da representação na aprendizagem matemática e a possibilidade de agir sobre o texto de ensino, em particular, para o caso da aprendizagem da geometria. Ainda, a sensação que se tem e que deixa transparecer nas conclusões é de que o que foi feito suscita muita mais o que fazer.

Abstract : The present study addresses a sensitive and urgent topic in Mathematics Education. It is about a case study with the participation of a blind student. Tens of meetings were scheduled with this student and are reported and analyzed on the following pages. In focus, a complex situation is presented: the learning of Mathematics by a congenital blind student. The analysis of the meetings had the Theory of Register of Semiotic Representation by Raymond Duval as the main theoretical framework, which provided a model to be followed for the semiotic and cognitive analyses (semio-cognitive analyses) that we conducted. However, we were not satisfied with this. Thus, we resorted to Bernard Charlot, in his theory Relation to Knowledge, in order to get other elements that could shed more light on our analyses. As a result, we found situations in which the identity and social dimensions of his theory, striking, complete the analysis of epistemological character, which was what we had been doing until then with the relation to knowledge. Our study had as a protagonist only one blind student, which means that we are not allowed to present generalizations. Nevertheless, we cannot forget that the documents, laws, books, school manuals and son on were also used as a source for the elaboration of this doctoral dissertation. Finally, in the conclusions, we show a series of questions that were detected and that need to be deepened, of wich we highlight, the importance of the form of the representation in the mathematical learning and the possibility to acting over the text of teaching, in particular, in the case of learning geometry. Still, the feeling we have, that can also be observed in the conclusions, is that what has been done raises much more to do.