Circulação da divulgação científica em livros didáticos de química: a textualização da radioatividade enquanto fato científico

Abstract

A circulação de temas de Ciência e Tecnologia compreende necessariamente a utilizac¸a~o de diferentes textos. Tratamos nesta pesquisa sobre a circulação da radioatividade enquanto fato científico, segundo a concepção de Fleck (2010), considerando que uma das formas com que esse tema circula socialmente e entra em contato com a escola ocorre por meio dos livros didáticos. Ressaltamos nesta tese, que os livros didáticos atuais de química para a educação básica são compostos por vários textos, de fontes diferentes, entre eles, aqueles que em geral são considerados como de divulgação científica, que fazem parte da ciência popular. Deste modo, a partir dos pressupostos da teoria de Fleck (2010), buscamos entender e discutir sobre a entrada da Divulgação da Ciência em livros didáticos de qui´mica considerando suas características textuais e a dimensão epistemológica que essa entrada produz, em relação ao fato científico da Radioatividade. Desta forma, consideramos nesta pesquisa, que os conhecimentos e fatos científicos para serem produzidos e mantidos necessitam do fluxo/movimento/tráfego de ideias entre diferentes coletivos de pensamentos, compostos por especialistas e não especialistas. Esses fluxos requerem necessariamente diferentes formas que Fleck sintetiza como: a ciência dos periódicos, a ciência dos manuais, a ciência popular e a ciência dos livros didáticos. Tais formas são entendidas por nós como diferentes textualizações da ciência e, portanto, constitutivas do processo de produção, circulação, manutenção e transformação dos conhecimentos. A própria gênese do fato científico da radioatividade no final do século XIX e início do século XX, se deu por meio de práticas textuais (comunicacionais e epistemológicas) mediada por estes trânsitos, como pela comunicação entre pares na ciência dos periódicos, a circulação deste tema em Nobel lectures, já visando um público mais amplo, e até mesmo na ciência popular. Observamos que a construção do sentido científico de radioatividade ao longo do tempo ocorreu de acordo com o contexto teórico/experimental da época, que estava associado por sua vez, a práticas textuais ligadas a outras práticas, como as experimentais. Outro aspecto que identificamos nesta tese, foi que além dos textos de divulgação científica, os livros didáticos possuem também fontes da ciência dos periódicos e da ciência dos manuais. Esta heterogeneidade, nos levou a considerar os livros didáticos de química analisados como um híbrido textual. Em relação a entrada dos textos de divulgação científica nos capítulos sobre Radioatividade nos livros analisados, vimos que na maioria das vezes essas entradas atuaram como tráfegos intracoletivos em relação ao fato da radioatividade, que por vezes, associaram este fato a outros fatos científicos e a fatos sociais, que apareciam de maneira explícita no próprio texto de divulgação científica e/ou por meio da mediação no final destes textos, através de exercícios e/ou questões. As dinâmicas de produção/manutenção de fatos científicos, por serem dinâmicas sociais, históricas e coletivas, imprescindem dos textos.

Abstract: Science and Technology themes circulation necessarily includes the use of different texts. On this research, we deal the radioactivity circulation as a scientific fact, accordingly to the Fleck´s concept (2010), considering that one of the ways, that this topic circulates socially and reaches the schools, is the textbook. In thesis we highlight that the current chemistry textbooks for the basic education are composed of several texts, from different sources, including those generally considered to be considered as scientific divulgation, which are part of the popular science. Thus, based on the assumptions of Fleck's theory (2010), we seek to understand and discuss the entry of Science Dissemination in chemistry textbooks considering its textual characteristics and the epistemological dimension that this entry produces, in relation to the scientific fact of Radioactivity. In this way, we consider in this research, that the scientific knowledge and facts to be produced and maintained need the flow / movement / traffic of ideas between different collectives of thoughts, composed by specialists and non-specialists. These flows necessarily require different forms that Fleck synthesizes as: journals science, manuals science, popular science and textbooks science. Such forms are understood by us as different science textualizations and, therefore, constitutive of the knowledge production, circulation, maintenance and transformation. The very genesis of the scientific fact of radioactivity in the late nineteenth and early twentieth centuries was through textual practices (communicational and epistemological) mediated by these transits, in peer-to-peer communication in journal science, in the circulation of this theme in Nobel lectures, already aiming at a wider audience, and even in popular science. We observed that the construction of the scientific sense of radioactivity over time occurred according to the theoretical/experimental context of that time, which was associated with textual practices linked to other practices, such as the experimental ones. Another aspect that we identified in this thesis was that besides the texts of scientific dissemination, the textbooks also have sources of journals science and textbooks science. This heterogeneity led us to consider the analyzed chemistry textbooks as a textual hybrid. Regarding the entry of the texts of scientific divulgation in the chapters on Radioactivity in the analyzed books, we saw that in most of the times these entries acted as intracolective traffic in relation to the fact of radioactivity, which sometimes associated this fact with other scientific facts and social facts, which appeared explicitly in the text itself of scientific dissemination and/or through mediation at the end of these texts, through exercises and/or questions. The dynamics of production/maintenance of scientific facts, because they are social, historical and collective dynamics, depend on the texts for their existence.