O projeto de pesquisa de iniciação científica “O irrepresentável do feminino na devastação” busca estudar o conceito de devastação em psicanálise e como este se apresenta em diferentes obras de Clarice Lispector. No começo do projeto foi realizado uma leitura atenta e minuciosa de toda obra da autora em que foi possível perceber vivências da devastação em personagens dos romances Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969) e Um sopro de vida (1978), e também do conto “Ele me bebeu”, que compõe o livro Via Crucis do Corpo (1974). Dessa forma, foi realizado um trabalho de revisão teórica do conceito de devastação nas obras de Freud e Lacan, bem como de autores contemporâneos da psicanálise. Para posteriormente, analisar comparativamente as obras selecionadas de Clarice Lispector com o recorte teórico da devastação. A devastação em psicanálise se refere a um sofrimento agudo vivenciado por homens ou mulheres comumente após um termino amoroso, mas não só, em que os sujeitos vivem experiências disruptivas com o próprio corpo e a linguagem. Em termos psicanalíticos a devastação comporta duas vertentes, uma fálica articulada à reivindicação do desejo materno e outra não-toda fálica em relação à falta de significante que determine a mulher no inconsciente. A devastação no campo do não-todo fálico se liga à experiência da perda de um corpo, momento que está ligado necessariamente ao arrebatamento ou ao êxtase. Na literatura de Clarice Lispector encontramos uma escrita desse traumático que toca o corpo: “Então — ao ter que me entregar ao Nada — aconteceu o milagre: senti como alimento no gosto da boca o sabor do Tudo. Esse sabor espalhou-se como luz e sensação de gosto pelo corpo todo, e eu me entreguei a Deus, com delírio de uma alma que bebesse água” (LISPECTOR, 1999, p. 136).
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Seminário de Iniciação Científica.
Universidade Federal de Santa Catarina.
Centro de Comunicação e Expressão.
Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, Orientador Prof. Dr. Carlos Eduardo Schmidt Capela.