A escrita acadêmica em (dis)curso: o dizer-se surdo e narrar vivências de si em textos de dissertações e teses da UFSC

Abstract

Neste trabalho, buscamos analisar o dizer-se surdo e as narrativas de si inscritas na escrita de dissertações e teses de alunos surdos. Para esse fim, selecionamos como corpus de pesquisa trabalhos de finalização de curso da UFSC de alunos surdos que frequentaram os programas de pós-graduação em Linguística (PPGL), em Estudos de Tradução (PGET) e em Educação (PPGE), desde a instauração desses programas até o ano de 2017, período definido para a coleta de dados no site da biblioteca denominado ?Repositório UFSC?. Trata-se de textos acadêmicos em que afirmativas do tipo ?Sou Surdo(a)? e as narrativas de si fazem-se presentes em suas partes introdutórias, marcando na escrita o lugar de inscrição do dizer do sujeito ? pautado em sua condição de surdez. Em nossa metodologia, analisamos os efeitos de sentidos mobilizados pelas marcas de identificação do lugar social do sujeito ? surdo ? e as narrativas de suas vivências surdas na escrita dos textos que compõem o corpus. As escritas de si presentes nesses textos acadêmicos tornam-se alvos de nossa investigação devido ao estranhamento causado por abrir brechas nas regularidades constitutivas da escrita acadêmica, sobretudo no que tange ao ?efeito de objetividade? e ao ?apagamento? do tom subjetivo esperados nessa escrita. Como aporte teórico, recorreremos à AD com textos de Pêcheux (1997, 1990), Orlandi (1996, 1998, 2001, 2005, 2015) e outros teóricos da área, aos Estudos Culturais, com ênfase no pensamento de Stuart Hall (2004, 2011, 2016 [2013]), e aos Estudos Surdos, por meio da perspectiva de Quadros (2006), Scliar (2013), Stumpf (2012), Strobel (2009), Perlin (2013), Rosa (2012), entre outros. Filiados à AD pecheutiana, entendemos ser a escrita uma materialidade em que os efeitos de sentidos estão em curso, de modo a se constituir um lugar de deslocamento de sentidos e sujeitos. Esta análise aponta que a mobilização da subjetividade da escrita de si, marcada por posição discursiva identitária (surda), dentro de uma outra escrita ? a acadêmica - constituída pela objetividade da escrita da ciência, produz sentidos de singularidade no inscrever-se do sujeito surdo na escrita acadêmica, e que, devido a sua recorrência em nosso corpus, acaba por produzir uma regularidade no discurso acadêmico.

Abstract: In this work, we seek to analyze the deaf person?s speech and narratives on themselves in the writing of dissertations and theses by deaf students. For this purpose, we have selected as a research corpus UFSC course works of deaf students who have attended the postgraduate programs in Linguistics, Translation Studies and Education, since the establishment of these programs until the year 2017, the defined period for data collection on the library website called ?Repositório UFSC?. These are academic texts in which statements of the type ?I am Deaf? and the narratives of themselves are present in their introductory parts, marking in their writing the place of the subject's speech - based on their condition of deafness. In our methodology, we analyze the effects of meanings mobilized by the identification marks of the subject's social place ? deaf person ? and the narratives of their experiences of being deaf in the writing of the texts that make up the corpus. The writings on themselves present in these academic texts become targets of our investigation due to the strangeness caused by opening loopholes in the constitutive regularities of academic writing, especially with regard to the ?objectivity effect? and the ?effacement? of the subjective tone expected in this writing. As a theoretical contribution, we will use texts of Discourse Analysis (DA) by Pêcheux (1997, 1990), Orlandi (1996, 1998, 2001, 2005, 2015) and other theorists in the area, of Cultural Studies, with emphasis on Stuart Hall?s works (2004, 2011, 2016 [2013]), and Deaf Studies, through the perspective of Quadros (2006), Scliar (2013), Strobel (2009), Perlin (2013) and Rosa (2012), among others. Affiliated to the DA of Pêcheux, we understand that writing is a materiality in which the effects of meanings are ongoing, in order to constitute a place of displacement of meanings and subjects. This analysis points out that the mobilization of the subjectivity of the writing of oneself, marked by discursive (deaf) identity position, within another writing ? the academic one ? constituted by the objectivity of the writing of science, produces meanings of singularity in the registration of the deaf subject in academic writing, which, due its recurrence in our corpus, ends up producing a regularity in academic discourse.