Educação financeira: práticas discursivas na educação matemática

Abstract

Uma educação financeira é inserida na agenda global educacional, especialmente pela disseminação de documentos propositivos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e se inscreve na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em articulação aos conteúdos da matemática que se ensina na escola. Além disso, nota-se um interesse no campo da pesquisa em Educação Matemática, que passa a tomar a educação financeira como um problema a ser investigado para os processos de ensino e aprendizagem. Disso, considera-se emergente a problematização das relações existentes e possíveis no seu irrompimento, a fim de historicizar a constituição desse tema. Isso posto, objetiva-se nesta tese analisar um conjunto de práticas discursivas que possibilitaram a emergência e a proveniência da educação financeira no currículo da matemática escolar. Para tanto, fez-se necessário examinar as condições políticas, econômicas e sociais que possibilitaram a emergência deste tema; investigar de que maneira as problemáticas relacionadas ao dinheiro, trabalho, riquezas, bens, patrimônios e seu uso foram objeto de preocupação em outros momentos da história; analisar a inscrição dos enunciados em relação à educação financeira em teses e dissertações sobre a temática e em documentos normativos; entender que tipos de assujeitamentos estão imbricados nas práticas matemáticas de um educar financeiro na atualidade e em outras épocas. Com isso, elabora-se uma história pela genealogia segundo Michel Foucault, mobilizando fontes como documentos normativos e propositores de currículo, teses e dissertações sobre a temática, livros didáticos deste e de outros momentos da história, e imagens do movimento artístico Pop Art. Busca-se não a tentativa de ver que projeto está na base dessa inserção atual da educação financeira que perpassa os conteúdos da matemática que se ensina na escola, mas mostrar como as peças foram dispostas e atualizadas ao longo da história, de modo que o tema se apresenta como uma das teias de controle e formação de um homo oeconomicus, no século XX como parceiros do processo da troca e, atualmente, empresário de si. No contexto atual, passa-se a exercitar comportamentos e valores de como consumir, construir orçamentos e poupar em tempos de neoliberalismo. Esses exercícios vistos nas práticas contemporâneas formam o que chamamos de técnicas de si e estão permeados por indicações que forjam um sujeito empresário de si que é conduzido por uma moral quádrupla formada pela culpa, pela promessa, pelo esforço e pelo desejo. Tudo isso, enfim, caracterizando uma função econômica da educação matemática que perpassa outros tempos e a atualidade.

Abstract: Financial education is included in the global educational agenda, especially through the dissemination of propositional documents from the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), and is included in the Common National Curricular Base (BNCC) articulated with school mathematics contents. There is also an interest in the field of research in mathematics education, which takes financial education as a problem to be investigated for the teaching and learning processes. From this, the problematisation of existing and possible relationships in their emergence raises in order to historicise the constitution of this theme. That said, the objective of this thesis is to analyse a set of discursive practices that enabled the emergence and inclusion of financial education in the curriculum of school mathematics. Therefore, it was necessary to examine the political, economic, and social conditions that made possible this theme to come out; investigate how issues related to money, labour, wealth, goods, assets, and their use were an object of concern at other times in history; analyse the inscription of statements related to financial education in doctoral theses and masters' dissertations on the subject and in normative documents; understand what types of subjections are imbricated in the mathematical practices of a financial educator today and in other times. Thus, a history by genealogy is elaborated according to Michel Foucault, mobilising sources such as normative documents and curriculum proponents, theses and dissertations on the subject, textbooks from this and other moments in history, and images from the Pop Art artistic movement. The aim is not to try to see what project is at the basis of this current insertion of financial education that permeates the contents of school mathematics but to show how the pieces were arranged, updating themselves throughout history, in a way that the theme emerges as one of the webs of control and formation of a homo economicus, in the 20th century as partners in the exchange process and, presently, as an entrepreneur of the self. In the current context, behaviours and values of how to consume, build budgets, and save in times of neoliberalism are being exercised. Those exercises seen in contemporary practices form what we call techniques of the self and are permeated by indications that forge an entrepreneur of the self who is driven by a fourfold morality formed by guilt, promise, endeavour, and desire. All of this, finally, characterising an economic function of mathematics education that permeates other times and the present.