Movimentos de pensamento estatístico na infância: entre viver e contar histórias

Abstract

Nesta tese, parto do pressuposto que o pensamento estatístico necessita estar presente ao longo do tempo da Escola Básica e que os movimentos de complexidade dos conceitos a serem desenvolvidos nesse decorrer precisam ser balizados pelas condições do próprio grupo de estudantes com que estamos trabalhando. Ou seja, o pensamento estatístico na infância acontece em movimentos de ir e vir que respeitam as características infantis. A pesquisa tem por objetivo compreender os movimentos de pensamento estatístico com crianças em período de alfabetização e vem mostrar que a Educação Estatística é necessária e possível desde os primeiros anos do Ensino Fundamental. Tal necessidade é imposta pela cultura letrada na qual estamos mergulhados e que nos exige, cada vez mais, que saibamos lidar com dados. Nessa realidade as crianças vivem, aprendem e se desenvolvem, e isso pode se tornar uma possibilidade de educação estatística desde o início da escolaridade. Encaro o letramento estatístico como um processo contínuo, porque envolver-se com estatísticas é uma forma de ler, compreender e pronunciar o mundo, e ouvir e contar histórias com dados. Contamos a história em diálogos, com as pessoas que atravessaram essa tese e com as que se faziam necessárias para iluminar nossas reflexões. FREIRE (1987, 1989, 1996, 1997, 2011, 2020), LOPES (1998, 2010, 2012, 2014, 2018, 2017), WATSON (2006, 2009), GAL (2002), BEN-ZVI (2018), ENGEL (2016, 2017), ROSLING (2020) e CURCIO (1994). A característica longitudinal da pesquisa permitiu o olhar aos movimentos de Educação Estatística na escola ao longo do tempo: os dados foram produzidos em sala de aula, com um mesmo grupo de crianças que acompanhamos do 6 aos 10 anos de idade, durante seus primeiros quatro anos do Ensino Fundamental. Esta produção aconteceu embasada na experiência e continuidade de Dewey (1979) enquanto eu mesma atuava como professora da turma e tinha as aulas filmadas para depois se transformarem em diários de campo e textos de tese. A metodologia e a escrita da pesquisa são narrativas de acordo com Bolívar, Domingo e Fernández (2001) e Clandinin e Connelly (2015). Assim, componho um puzzle com peças que, juntas, fazem sentido e contam uma história. Inicio o puzzle de pesquisa com orientações sobre ?como ler? uma pesquisa narrativa e sigo com palavras-chave que são as peças essenciais para compor a tese: infância, escola, palavramundo, letramento, educação, estatística, movimento, criatividade, raciocínio, pensamento, experiência e vida. O puzzle da experiência é composto por palavras dos fazeres e saberes da pesquisa na escola: campo, aula, tarefa, atividade, intenção e propósito e em seguida narro os quatro anos de experiência com Educação Estatística subdividindo-os em aulas e temas abordados. As narrativas deste puzzle são permeadas por teorias, poemas, contos e subjetividades que atravessam o dia a dia da sala de aula quando trabalhamos nos tempos da infância (KOHAN, 2007, 2010). Ao final, junto todas as peças em um quadro de campo que relaciona teorias, intenções, tarefas, atividades e os principais aspectos do letramento estatístico desenvolvidos com a turma ao longo do tempo. Concluo que pelo movimento do pensamento estatístico, as crianças se perguntam e aprendem mais sobre elas mesmas, sobre seu entorno e sobre uma leitura crítica do mundo. Percebo que o letramento estatístico que flui junto com a leitura e a escrita das palavras, dos números e do mundo, é um começo que tem grande chance de continuar fluindo ao longo da vida dos estudantes e da professora.

Abstract: In this thesis I work based on the fact that statistical thinking needs to be present throughout the Elementary School and that the complexity movements of the concepts to be developed in this course need to be guided by the conditions of the group of students we are working with. In other words, statistical thinking in childhood takes place in back and forth movements that respect children's characteristics. The research aims to understand the movements of statistical thinking with children who are in literacy period and shows that Statistical Education is necessary and possible from the first years of Elementary School. This need is imposed by the literate culture in which we are immersed and which increasingly requires us to know how to deal with data. In this reality, children live, learn and develop, and this can become a possibility for statistical education from the beginning of schooling. I see statistical literacy as an ongoing process, because getting involved in statistics is a way of reading, understanding, pronouncing the world, and hearing and telling stories with data. We tell the story in dialogues, with the people who have gone through this thesis and with those who were necessary to illuminate our reflections. FREIRE (1987, 1989, 1996, 1997, 2011, 2020), LOPES (1998, 2010, 2012, 2014, 2018, 2017), WATSON (2006, 2009), GAL (2002), BEN-ZVI (2018), ENGEL (2016, 2017), ROSLING (2020) and CURCIO (1994). The longitudinal characteristic of the research allowed us to look at the movements of Statistical Education at the school over time: the data were produced in the classroom, with the same group of children that we followed from 6 to 10 years old, during their first four years of Elementary School. This production took place based on Dewey's (1979) experience and continuity while I personally worked as the class teacher and had the classes filmed to later become field diaries and thesis texts. According to Bolívar, Domingo and Fernández (2001) and Clandinin and Connelly (2015) the research methodology and writing are narratives. So, I compose a puzzle with pieces that, together, make sense and tell a story. I start the research puzzle with guidelines on \"how to read\" a narrative research and continue with keywords that are the essential pieces to compose the thesis: childhood, school, palavramundo, literacy, education, statistics, movement, creativity, reasoning, thinking, experience and life. The experience puzzle is composed of words from the knowing and doings of research at school: field, class, task, activity, intention and purpose and then I narrate the four years of experience with Statistical Education, subdividing them into classes and topics covered. The narratives of this puzzle are permeated by theories, poems, stories and subjectivities which cross the daily life of the classroom when we work in childhood (KOHAN, 2007, 2010). At the end, I put all the pieces together in a field chart that lists theories, intentions, tasks, activities and the main aspects of statistical literacy developed with the class over time. I conclude that through the movement of statistical thinking, children ask themselves and learn more about themselves, about their surroundings and about a critical reading of the world. I realize that the statistical literacy that flows along with reading and writing words, numbers and with the world reading is a beginning that has a great chance of continuing to flow throughout the lives of students and teachers.