A aquisição da linguagem em surdos: uma análise de teses e dissertações defendidas no Brasil

Abstract

Estudos realizados em Aquisição da Linguagem procuram explicar como os seres humanos se apropriam da língua de sua respectiva comunidade de forma natural e espontânea, sem que haja um processo de ensino. Em meados dos anos 60, pesquisas passaram a ser feitas para compreender se línguas de sinais teriam o mesmo status linguístico que línguas orais (STOKOE, 1960) e, consequentemente, apresentavam o mesmo processo de aquisição. O presente trabalho tem como objetivo investigar teses e dissertações, defendidas em programas de pós-graduação brasileiros, do período que compreende entre os anos 2001 e 2020, que estejam contidas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, a fim de saber o que tais estudos dizem a respeito das teorias de aquisição da linguagem em surdos e as concepções de surdez. Esta pesquisa direciona seu olhar para as teorias de aquisição da linguagem que estão subjacentes aos estudos selecionados para comporem o corpus desta dissertação, além de analisar as concepções de surdez que tais estudos apresentam. Para isso, o método de pesquisa escolhido foi a Revisão de Literatura, do tipo Sistemática, de grande nível de evidência científica, com foco em uma questão bem definida, pois a partir de dados primários, identifica, seleciona, avalia e sintetiza as evidências relevântes disponíveis (GALVÃO; PEREIRA, 2014). A busca se deu pelos descritores ?aquisição?, ?linguagem? e ?surdos?, em variadas combinações. As análises foram realizadas em 20 estudos, sendo 4 teses e 16 dissertações. As teorias de aquisição da linguagem apontadas pelos estudos foram a behaviorista, gerativista, sociointeracionista e interacionista, e as concepções de surdez abordadas foram a socioantropológica e a clínico-terapêutica. A maioria dos estudos apresentou o sociointeracionismo como teorias de aquisição da linguagem, que coloca a interação social entre os pares como ponto indispensável para aquisição. Em seguida, a teoria que mais se fez presente foi a gerativa, que acredita em uma Gramática Universal inata ao ser humano. Quanto à concepção de surdez, a maior parte dos estudos se mostrou ser ancorado pela perspectiva do surdo enquanto sujeito diferente e completo, que dispõe de uma cultura, identidade e língua próprias.

Abstract: Studies about Language Acquisition try to explain how human beings acquire the language of their corresponding community in a natural and spontaneous way, without a teaching process. Thus, in the mid-1960s, research began to be done in order to understand whether sign languages had the same linguistic status as oral languages (STOKOE, 1960) and, consequently, presented the same acquisition process. This paper aims to investigate theses and dissertations, defended in Brazilian graduate programs, from the period between 2001 and 2020, which are in the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations, in order to know what such studies say about the theories of language acquisition in deaf people and conceptions of deafness. This research directs its gaze to the theories of language acquisition that underlie the studies selected to compose the corpus of this dissertation, in addition to analyzing the conceptions of deafness that these studies present. To this end, the chosen research method was the Literature Review, of the Systematic type, with a high level of scientific evidence, focusing on a well-defined issue, because from primary data, it identifies, selects, evaluates and synthesizes the relevant available evidence (GALVÃO; PEREIRA, 2014). The search was made by the descriptors \"acquisition\", \"language\" and \"deaf\", in various combinations. The analyses were performed in 20 studies, 4 theses and 16 dissertations. The theories of language acquisition mentioned by the studies were behaviorist, generativist, social interactionist, and interactionist, and the conceptions of deafness addressed were socio-anthropological and clinical-therapeutic. Most studies were supported by the socio-interactionist theory of language acquisition, which places social interaction among peers as an indispensable point for acquisition. Next, the theory that was most present was the generative theory, which believes in a Universal Grammar innate to humans. As for the conception of deafness, most studies proved to be anchored by the perspective of the deaf as a different and complete subject, which has its own culture, identity and language.