Title: | O movimento do feminismo agroecológico no Vale do Ribeira (SP): contribuições para uma educação decolonial |
Author: | Busko, Paula Simone |
Abstract: |
Esta pesquisa de doutoramento tem o objetivo de analisar os elementos que constituem o movimento do feminismo agroecológico na região do Vale do Ribeira, interior sul paulista, com vistas a pensar as contribuições para uma educação decolonial. Tais elementos, constituídos por memórias ancestrais, oralidades e práticas pedagógicas, constituem os objetivos específicos da pesquisa e que, em um apanhado inicial de informações e vivências de mulheres agricultoras, deparam-se com um processo decolonial em curso. O que chamou muito a atenção em todo esse percurso foi que as memórias, as oralidades e as tradições ancestrais ajudam a constituir práticas pedagógicas que, por meio das redes instaladas no Vale, ajudam na formação do feminismo agroecológico. Apresenta-se no percurso da pesquisa a pedagogia freireana, em que os ensinamentos de Paulo Freire se destacam em meio às ações de educação popular. O conceito de escrevivências, utilizado como um espaço de diálogo em vários momentos deste trabalho, surge pelas oralidades com base nas memórias e nas experiências do cotidiano e será explicitado mais detalhadamente no decorrer deste trabalho. Inspirada nas obras de Conceição Evaristo, a escrevivência configura-se como um tipo de literatura contemporânea que trata da complexidade humana e de sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o preconceito, o desamparo, a fome e o esquecimento das ditas minorias que estão presentes na sociedade brasileira, utilizando como base os estudos da metodologia decolonial baseados em Alexander Ocaña, María Isabel López y Zaira Conedo. Argumenta-se que, na proposição desta escrita, onde essa literatura constitutiva da vida das pessoas sugere discursos em que se constituem os sujeitos coletivos, certas práticas sociais ? pautadas nas vivências e nas memórias das gentes ? apontam para um caminho decolonial. Pergunta-se: Ao analisar os discursos que circulam nas comunidades pesquisadas é possível dizer que tanto as escrevivências quanto a pedagogia freireana podem contribuir para a ampliação do debate sobre o que é, como se aprende e se ensina na educação decolonial? Apresentadas as categorias da pedagogia freireana, demonstra-se como a formação do movimento de mulheres se insere num espaço social de igualdade e transformação social. Discute-se, portanto, a urgência de um fazer decolonial no plano educacional, científico, ético e político. Esta pesquisa indica que a agroecologia é mais do que criar ou inovar um sistema de produção agrícola. E para que ela possa existir parte-se do feminino que compõe o termo mulher-natureza-território. Isto é muito importante porque vai acompanhar todo o trabalho realizado nesta pesquisa. A agroecologia é um processo de agricultura familiar que parte da mulher. A agricultura familiar é considerada, portanto, um segmento social e econômico que tem um papel central na segurança alimentar e na conservação ambiental e, além disso, promove emprego e renda. Ao unir os estudos dos discursos em uma conexão com as pedagogias decoloniais evidencia-se que a análise do discurso se propõe a mostrar a não-transparência do sujeito e do sentido. Como um movimento social e epistemológico, o movimento do feminismo agroecológico evidencia que as mulheres poderiam reorganizar as relações de poder e de decisão dentro da família tradicionalmente patriarcal. Elas ganham força no coletivo. Diante disto, um dos aspectos do feminismo agroecológico no Vale é que ele seja constituído por mulheres que compartilham experiências agroecológicas em seus modos de produção e comercialização de produtos da terra. O fazer decolonial exige uma observação e uma mediação possível ao que se vive de maneira sensível, tanto para os detalhes quanto para a totalidade, pois a parte é, nesse caso, maior e menor que o todo. Não se pode definir a mulher que integra um movimento como o apresentado sem sua relação com os processos agroecológicos existentes. A reflexão configurativa e presenciada reconhece a alteridade porque um projeto de poder (colonial em suas múltiplas dimensões) está sendo desconstruído. Abstract: This doctoral research aims to analyze the elements that constitute the agroecological feminism movement in the region of Vale do Ribeira, in the south of São Paulo, with a view to thinking about the contributions to a decolonial education. These elements, made up of ancestral memories, orality and pedagogical practices, constitute the specific objectives of the research and that, in an initial survey of information and experiences of women farmers, are faced with an ongoing decolonial process. What drew a lot of attention throughout this journey was that memories, orality and ancestral traditions help to constitute pedagogical practices that, through the networks installed in the Vale, help in the formation of agroecological feminism. Freire's pedagogy is presented in the course of the research, in which Paulo Freire's teachings stand out in the midst of popular education actions. The concept of writing, used as a space for dialogue in several moments of this work, arises through orality based on memories and everyday experiences and will be explained in more detail in the course of this work. Inspired by the works of Conceição Evaristo, writing is a type of contemporary literature that deals with human complexity and the deep feelings of those who face daily prejudice, helplessness, hunger and forgetfulness of the so-called minorities that are present in society. Brazilian economy, using as a basis the studies of the decolonial methodology based on Alexander Ocaña, María Isabel López and Zaira Conedo. It is argued that, in the proposition of this writing, where this constitutive literature of people's lives suggests discourses in which collective subjects are constituted, certain social practices - based on people's experiences and memories - point to a decolonial path. It is asked: When analyzing the discourses that circulate in the communities surveyed, is it possible to say that both writings and Freirean pedagogy can contribute to the expansion of the debate about what is, how is learned and taught in decolonial education? After presenting the categories of Freirean pedagogy, it is shown how the formation of the women's movement is inserted in a social space of equality and social transformation. Therefore, the urgency of a decolonial action in the educational, scientific, ethical and political spheres is discussed. This research indicates that agroecology is more than creating or innovating an agricultural production system. And for it to exist, it starts from the feminine that makes up the term woman-nature-territory. This is very important because it will accompany all the work carried out in this research. Agroecology is a family farming process that starts with women. Family farming is therefore considered a social and economic segment that plays a central role in food security and environmental conservation and, in addition, promotes employment and income. By uniting discourse studies in a connection with decolonial pedagogies, it becomes evident that discourse analysis proposes to show the non-transparency of the subject and the meaning. As a social and epistemological movement, the agroecological feminist movement evidences that women could reorganize power and decision-making relationships within the traditionally patriarchal family. They gain strength in the collective. In view of this, one of the aspects of agroecological feminism in the Vale is that it is made up of women who share agroecological experiences in their modes of production and commercialization of products from the land. The decolonial doing requires an observation and a possible mediation to what is lived in a sensitive way, both for the details and for the totality, because the part is, in this case, bigger and smaller than the whole. The woman who integrates a movement like the one presented cannot be defined without her relationship with the existing agroecological processes. The configurative and witnessed reflection recognizes otherness because a power project (colonial in its multiple dimensions) is being deconstructed. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, 2022. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/238297 |
Date: | 2022 |
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PECT0512-T.pdf | 6.266Mb |
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