Meditações antinormativas: neoliberalismo, homonormatividade, grindr, tinder e a gestão da diversidade (2019-2021)

Abstract

A pesquisa em questão procurou compreender e explanar de maneira mais profunda a constituição de uma nova homonormatividade, que acredito ser cada vez mais expressada nos aplicativos de pegação/relacionamento gays. Nesse sentido, busquei me debruçar sobre a construção de uma economia política sexual marcada por relações homoeróticas as quais se edificam, a partir de trocas recíprocas que acabam por mascarar certas práticas sexuais, conferindo-as uma inteligibilidade cultural outra. Sendo assim, busquei também pensar as tramas que constituem sujeitos, relações e subjetividades, a partir de processos de permutas, perdas e negociações que atuam na formação do que Gayle Rubin chamou de ?escala mal posicionada?. Para isso, analisei perfis recolhidos nos aplicativos Grindr e Tinder durante o primeiro semestre de 2019. Como arcabouço teórico metodológico, utilizei uma hibridização entre marxismo, teoria queer, psicanálise, antropologia estruturalista, história global e queermarxismo. A partir desse aparato, apresento a homonormatividade como um ideal regulador da diversidade que edifica um regime de visibilidade responsável por realizar a manutenção da heteronormatividade, ressignificando a noção de inteligibilidade, na medida em que atua circunscrevendo-aviolentamente sobre corpos que são responsabilizados por seu sucesso, mas principalmente pelo seu fracasso em uma perspectiva neoliberal. Sendo assim, a homonormatividade realiza um trabalho de sísifo, pois exige um enorme esforço de quem a executa na medida em que sua manutenção é constante.

Abstract: The research in question sought to understand and explain more deeply the constitution of a new homonormativity, which I believe is increasingly expressed in gay dating/gay dating apps. In this sense, I focused on the construction of a sexual political economy marked by homoerotic relationships which are built from reciprocal exchanges that end up masking certain sexual practices, giving them different cultural intelligibility. Therefore, I tried to think about the plots that constitute subjects, relationships, and subjectivities, based on processes of exchanges, losses, and suffering that occurred in the formation of what Gayle Rubin called a poorly positioned scale. For this, I analyzed profiles collected on the Grindr and Tinder apps during the first half of 2019. As a methodological theoretical framework, I used a hybridization between Marxism, queer theory, psychoanalysis, structuralist anthropology, global history, and queermarxism. From this apparatus, I present homonormativity as an ideal that regulates diversity that builds a regime of visibility responsible for maintaining heteronormativity, re-signifying the notion of intelligibility, insofar as it acts by violently circumscribing it over bodies that are held responsible for its success, but mainly because of its failure from a neoliberal perspective. Therefore, homonormativity performs a Sisyphus work, as it requires an enormous effort from those who execute it insofar as its maintenance is constant..