Feminismos ao Sul: possibilidades e desafios para a formação de professores e a educação em ciências

Abstract

Nessa pesquisa, propomos discutir como os feminismos do Sul Global podem contribuir para a promoção de uma Educação em Ciências antirracista, anticapitalista, antipatriarcal e anticolonial. Temos como objetivos investigar as possibilidades e limites de uma disciplina sobre gênero, baseada nos estudos da decolonialidade e da interseccionalidade, utilizando literatura produzida por mulheres negras e feministas na formação de professores no curso de Educação do Campo da UFSC. Com essa pesquisa, buscamos compreender de que maneira uma formação de professores que aborde questões relacionadas à pluralidade cultural, étnico-racial, de classe e de gênero, a não neutralidade da Ciência, e a não hegemonia de poder/saber/ser pode despertar nos licenciandos uma postura crítica em relação à Ciência e ao seu ensino, favorecendo um Ensino de Ciências emancipatório que combate o machismo, o racismo, o patriarcado e as desigualdades sociais e de gênero. O estudo está dividido em uma pesquisa de estado da arte e uma pesquisa-ação. Na pesquisa de estado da arte, buscamos reconhecer a produção acadêmica recente envolvendo a perspectiva feminista e sua interface com a Educação Científica e Tecnológica. Na pesquisa-ação, realizamos intervenções por meio de discussões em sala de aula e leitura das obras selecionadas e as licenciandas escreveram sobre suas vivências e aprendizados. As análises qualitativas da pesquisa de estado da arte permitiram identificar que existe uma preponderância de pesquisas relacionadas à temática de gênero e sexualidade, enquanto temáticas envolvendo feminismo, machismo, patriarcado e sexismo ainda são pouco abordadas. Em relação à pesquisa-ação, tanto as discussões em sala de aula quanto os textos e atividades produzidos pelas estudantes basearam-se nas discussões trazidas pelos feminismos do sul global e buscaram identificar mudanças, avanços e permanências na formação de professores de Ciências por meio de discussões que rompem com discursos opressivos, machistas, racistas e heteropatriarcais, além de apontar as potencialidades e os desafios de construir uma práxis com base em ferramentas teóricas interseccionais e decoloniais.

Abstract: In this research, we propose to discuss how feminisms from the Global South can contribute to the promotion of an antiracist, anticapitalist, antipatriarchal, and anticolonial Science Education. Our objectives are to investigate the possibilities and limitations of a gender discipline based on decoloniality and intersectionality studies, using literature produced by Black women and feminists in the teacher training program in the Education in the Countryside course at UFSC. Through this research, we aim to understand how teacher education that addresses issues related to cultural and ethnic-racial plurality, class, and gender, the non-neutrality of science, and the non-hegemony of power/knowledge/being can foster a critical stance among pre-service teachers towards Science and its teaching, promoting an emancipatory Science Education that combats sexism, racism, patriarchy, and social and gender inequalities. The study is divided into a state-of-the-art research and an action research. In the state-of-the-art research, we seek to recognize recent academic production involving the feminist perspective and its interface with Science and Technology Education. In the action research, we conducted interventions through classroom discussions and the reading of selected works, and the pre-service teachers wrote about their experiences and learnings. The qualitative analysis of the state-of-the-art research allowed us to identify that there is a predominance of research related to gender and sexuality, while topics involving feminism, sexism, patriarchy, and sexism are still underexplored. Regarding the action research, both the classroom discussions and the texts and activities produced by the students were based on the discussions brought by feminisms from the Global South and aimed to identify changes, advancements, and continuities in the Science teacher education through discussions that challenge oppressive, sexist, racist, and heteropatriarchal discourses, as well as to highlight the potentialities and challenges of building a praxis based on intersectional and decolonial theoretical tools.