Abstract:
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Este trabalho compõe o Programa de Pesquisa “Teoria Crítica, Racionalidades e Educação V/VI” e surge de uma problemática clássica dos estudos da Teoria Crítica da Sociedade: a existência de fenômenos que foram pesquisados, entre os anos 1930 e 1960, sob o conceito de indústria cultural. Tratava-se, naquele momento, de uma conceitualização crítica e irônica a respeito da produção cultural feita como mercadoria, que jogava com os sentimentos mais imediatos e superficiais de seus consumidores. Conforme Adorno e Horkheimer, no clássico livro Dialética do esclarecimento, a indústria cultural seria promotora de regressão, transformando a diversão em fadiga ao procurar uma forma totalizante de controle sobre o sujeito. Importante conceito para o campo da educação, a indústria cultural é a forma mais abrangente dos processos de semiformação. Para além da revisão sobre este conceito, buscou-se compreender sua possível atualização, por meio de obras de Christoph Türcke, considerando-se o avanço tecnológico que culminou na onipresença das telas na vida cotidiana. Posteriormente, foram feitos exercícios de materialização da problemática investigada. Escolhemos alguns conteúdos da empresa Brasil Paralelo que, por meio de conteúdos exclusivamente digitais, promete educar e entreter os brasileiros; e tomamos, como um possível contraponto ao uso que tal produtora faz das telas, o filme-documentário da diretora Lúcia Murat, chamado “Que bom te ver viva”. Para este Seminário, será enfatizado o trabalho desenvolvido acerca deste último, o qual foi lançado no contexto da redemocratização brasileira, em 1989. Por meio de oito depoimentos e um monólogo interpretado por Irene Ravache, “Que bom te ver viva” discute o presente de mulheres cujas vozes emergem na tela e busca responder sobre como aquela experiência violenta e traumática pode ser, em sua permanência na memória de cada entrevistada, uma testemunha daquele momento presente. Passados 35 anos de seu lançamento e considerando-se que, neste ano de 2024, completam-se 60 anos do golpe de 1964, restou-nos a pergunta sobre o que o filme nos diz ou pode dizer sobre um presente que, como repetição traumática, não para de ecoar no fascínio pela violência ditatorial que suprime a política e até mesmo o sujeito. Apresenta-se a obra no que diz respeito a seus elementos e à montagem, para então discutir seu conteúdo em torno de três eixos: o testemunho, a maternidade e o desejo feminino, uma vez que, a tais mulheres, não interessa apenas ter sobrevivido, mas também como seguir vivendo como sujeito da reconstrução democrática, reafirmando-se o desejo feminino, inclusive aquele de ordem sexual. Para além da conclusão desse material, que diz sobre a culpa como sendo indissociável da testemunha e o testemunho, por sua vez, como sendo uma possibilidade de afastamento do trauma, tem-se como resultados mais amplos, dos últimos dois semestres de estudos, o vídeo, o relatório e três artigos sobre a temática – dois aceitos para publicação e um já publicado. |