Heterossexualidade compulsória e violência(s): análise sociolinguística de relatos de mulheres lésbicas e de homens gays sobre descoberta, aceitação e preconceito

Abstract

Situada num diálogo interdisciplinar entre a sociolinguística, os estudos etnográficos da linguagem e os estudos queer, esta pesquisa tem o objetivo de explorar e de discutir os processos de descoberta e de aceitação da sexualidade e as possíveis vivências de preconceito e de violência a partir de relatos de experiências de um grupo de mulheres autodeclaradas lésbicas e de homens autodeclarados gays. Esses relatos advêm de uma amostra composta por quatro entrevistas realizadas com duplas de lésbicas e com duplas de gays, totalizando oito participantes. A partir de minhas vivências e práticas, procurei construir um espaço seguro, de forma a acolher as pessoas entrevistadas, construindo um espaço de interação colaborativo, cooperativo e horizontal (Orton, 2021). A homofobia (Castañeda, 2007; Schulman, 2010), a saída/epistemologia do armário (Liang, 1997; Wood, 1997; Sedgwick, 2007), a heterossexualidade compulsória (Butler, 2003; Rich, 2012) e as ideologias semióticas (Keane, 2018) sobre signos (in)aceitáveis nas identidades queer são alguns dos conceitos que dão base à atividade de análise de linguagem, que foi construída em um constante processo de ir e vir entre teoria, empiria e metodologia. As análises são feitas a partir de um olhar qualitativo e interpretativo, e alguns excertos das entrevistas são utilizados tanto para exemplificar as opiniões das pessoas entrevistadas quanto para promover outras discussões correlacionadas. Os dados gerados apontam que as expectativas e as pressões sociais heteronormativas são um dos fatores que, de um lado, iteram vivências de preconceito e de violência, mas, por outro lado, são resistidos pelas/os participantes, fortalecendo discursos de descoberta e de aceitação da sexualidade.

Abstract: Situated in an interdisciplinary dialog between sociolinguistics, ethnographic studies on language and queer studies, this research aims to explore and discuss the sexuality discovery and acceptance processes, and the possible prejudice and violence background based on experiences reports of a group of self-declared lesbian women and self-declared gay men. These reports came from a sample composed of four interviews conducted with pairs of lesbians and with pairs of gays, totaling eight participants. Based on my experiences and practices, I tried to build a safe space, in order to welcome the people interviewed, through a collaborative, cooperative and horizontal interaction space (Orton, 2021). Homophobia (Castañeda, 2007; Schulman, 2010), coming out/closet epistemology (Liang, 1997; Wood, 1997; Sedgwick, 2007), compulsory heterosexuality (Butler, 2003; Rich, 2012) and semiotic ideologies (Keane, 2018) on (un)acceptable signs in queer identities are some of the concepts that underlie the activity of language analysis, which was built in a constant process of going back and forth between theory, empiricism and methodology. The analyzes are carried out from a qualitative and interpretative perspective, and some excerpts from the interviews are used both to exemplify the interviewed people opinion and to promote other correlated discussions. The data generated points out that expectations and heteronormative social pressures are some factors that, on one hand, iterate prejudice and violence experiences, but on the other hand are resisted by the participants, strengthening sexuality discovery and acceptance discourses.