Por uma perspectiva crítica nas aulas de inglês: intersecções entre gêneros jornalísticos, discursos e ideologias em um jornal escolar on-line sobre a(s) língua(s)

Abstract

A inserção de práticas midiáticas e, mais especificamente, jornalísticas na sala de aula é um caminho que vem sendo percorrido há algumas décadas por pesquisadores brasileiros, além de ser sugerida em documentos da educação como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e, atualmente, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com a definição do campo jornalístico-midiático na área de Linguagens. Essa realidade foi impulsionada pela presença cada vez mais frequente de ferramentas tecnológicas no cotidiano nos últimos 30 anos. Considerando que a escola não pode ignorar essas mudanças, a pesquisa investiga a produção de um jornal escolar em língua inglesa em uma escola de Ensino Médio em Santa Catarina. Além de produzido em língua inglesa, este jornal tinha como temática o ensino-aprendizagem desta língua estrangeira, emergindo reflexões ligadas ao campo das ideologias linguísticas. Neste cenário, esta pesquisa se orienta pela seguinte pergunta: Como se apresentam as práticas de letramento jornalístico crítico nas aulas de língua inglesa a partir da experiência de produção de um jornal escolar on-line escrito em inglês com discussões sobre o ensino-aprendizado de línguas? O objetivo é investigar como a produção de gêneros jornalísticos, feita pelos/as estudantes, em inglês e publicadas em um jornal online escolar temático sobre o ensino-aprendizado da língua estrangeira, possibilita o letramento jornalístico crítico e reflexões sobre a(s) língua(s). Este objetivo se desdobra nos seguintes objetivos específicos: a) analisar a ocorrência de (inter)discursos sobre a prática jornalística nas falas dos/as estudantes; b) analisar a ocorrência de (inter)discursos sobre a língua estrangeira nas falas dos/as estudantes; c) entender o letramento dos/as estudantes na esfera jornalística a partir da produção de hipergênero e gêneros jornalísticos. É uma pesquisa qualitativa, participante, de cunho interpretativista. Os dados foram gerados por meio dos debates em sala, diário de campo e produções dos/as alunos/as. Sobre o jornalismo, os resultados apontam que nas percepções dos jovens sobre essa prática predominam dois discursos: a) o discurso dominante, que enfatiza que a função do jornalismo é de informar, supostamente, de maneira imparcial e impactante; b) o discurso associado a grupos conservadores, presente nas redes sociais, que critica as grandes corporações de mídia com base na ideia de manipulação da informação, sustentando se no conceito de fake news. Ambos buscam se consolidar no espaço público, enquanto há carência de referências jornalísticas emancipadoras no escopo dos/as estudantes. Sobre a(s) língua(s), observou-se um discurso paradoxal. Os/As estudantes se mostram resistentes a modelos pré-estabelecidos de língua(s), justificando a importância da inteligibilidade ? e não a imposição de regras ? como geradoras de identificação e aceitação. No entanto, quando em contato com uma variedade desconhecida, eles/elas manifestaram rejeição a essa variedade, recorrendo novamente à ideia de norma, o que indica um posicionamento dominante. Quanto às práticas de letramento dos/as estudantes, a partir da produção de gêneros e do hipergênero jornalístico, não se observou rupturas significativas tanto na forma de fazer jornalismo, quanto nos discursos sobre o ensino-aprendizado de língua(s). No entanto, em meio a produção dominante, pode-se verificar a existência de traços críticos, os quais, se presume, são decorrentes das atividades dialógicas realizadas em sala de aula previamente à produção do jornal. Desta forma, ratifica-se a potencialidade de projetos com jornais escolares em busca de contraponto a discursos dominantes.

Abstract: The inclusion of media practices ? and more specifically, journalistic practices ? in the classroom has been a path followed for several decades by Brazilian researchers. It is also recommended in educational documents such as the National Curricular Parameters (PCNs) and, more recently, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), which establishes the journalistic-media field within the area of Languages. This reality has been driven by the increasingly frequent presence of technological tools in everyday life over the past 30 years. Considering that schools cannot ignore these changes, this research investigates the production of a school newspaper in English at a high school in Santa Catarina. In addition to being produced in English, this newspaper focused on the teaching and learning of this foreign language, bringing forth reflections related to the field of language ideologies. In this context, the study is guided by the following research question: What might critical news literacy practices look like in English language classes, based on the experience of producing a school on-line news written in English that discusses language teaching and learning? The objective is to investigate how the production of journalistic genres ? created by students in English and published in an online school newspaper themed around foreign language teaching and learning ? enables critical journalistic literacy and reflections on language(s). This main objective unfolds into the following specific goals: a) to analyze the presence of (inter)discourses about journalistic practice in students? speech; b) to analyze the presence of (inter)discourses about the foreign language in students? speech; c) to understand students? literacy in the journalistic sphere through the production of a hypergenre and journalistic genres. This is a qualitative, participatory study with an interpretivist approach. The data were generated through classroom discussions, field notes, and student productions. Regarding journalism, the findings indicate that two main discourses prevail in the students? perceptions of this practice: a) the dominant discourse, which emphasizes that the role of journalism is to inform, supposedly in an impartial and impactful manner; b) the discourse associated with conservative groups, present on social media, which criticizes mainstream media corporations based on the idea of information manipulation, rooted in the concept of fake news. Both discourses seek to establish themselves in the public sphere, while there is a lack of emancipatory journalistic references within students? repertoire. As for language(s), a paradoxical discourse was observed. Students appear resistant to pre-established models of language(s), emphasizing the importance of intelligibility rather than the imposition of rules as the basis for identification and acceptance. However, when confronted with an unfamiliar variety, they expressed rejection of it, reverting to the idea of a norm, which reveals a dominant stance. Regarding students? literacy practices through the production of journalistic genres and the hypergenre, no significant ruptures were observed either in how journalism was practiced or in discourses surrounding language teaching and learning. However, within the dominant production, critical traces were identified ? presumably stemming from dialogic activities conducted in the classroom prior to the newspaper?s production. This reinforces the potential of school newspaper projects as a mean to counter dominant discourses.