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A experimentação animal é uma atividade bastante difundida no meio acadêmico e científico, e conta com séculos de história desde o seu estabelecimento. As finalidades desta prática são constantemente afirmadas e justificadas por uma parte considerável da comunidade científica, especialmente quanto ao emprego de animais como modelo para pesquisa de doenças e enfermidades humanas. Acredita-se que o modelo animal é um "reagente" biológico capaz de predizer, com considerável confiança, os efeitos de determinadas substâncias ou intervenções quando então aplicados em seres humanos. Ainda, a pesquisa com animais é considerada por muitos autores como sendo fundamental para a ciência. No entanto, a prática da experimentação em animais vem provocando consideráveis preocupações políticas e públicas, sendo notável a crescente polemização em torno do tema. Estima-se que mais de 100 milhões de animais sejam mortos por ano em atividades de pesquisa, consumindo aproximadamente 14 bilhões de dólares. Há ainda uma visível tendência de assimilação do conceito do 3Rs (Substituição, Redução e Refinamento) por parte da comunidade científica, e da alegada humanização no manuseio com animais. A configuração deste cenário suscita importantes reflexões sobre as abordagens e o contexto de formação de estudantes das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde no ensino superior. Através da abordagem epistemológica sócio-histórica de Ludwik Fleck, esta pesquisa tem por objetivo (1) identificar e caracterizar os estilos de pensamento (EPs) atuais em relação ao uso de animais como modelo pelas Ciências Biomédicas; (2) identificar a afiliação, entre docentes vinculados a IFES, atuando nas áreas de Ciências Fisiológicas e Farmacêuticas, aos EPs identificados; (3) identificar e caracterizar o perfil potencialmente inovador ou tradicional de docentes e discentes atuantes nas áreas das Ciências Biológicas e da Saúde, em relação ao uso de animais no ensino e na pesquisa, e (4) estabelecer e caracterizar possíveis relações entre o EP encontrado entre docentes, com os perfis potencialmente inovadores ou tradicionais de pós-graduandos e graduandos de áreas de Ciências Biológicas e da Saúde. A hipótese desta pesquisa é a de que há um EP hegemônico que preconiza o modelo animal como indispensável para atividades de pesquisa e ensino nas Ciências Biológicas e da Saúde que dificulta o surgimento de novos EPs contrários ao mesmo. Para isso, foram aplicados questionários online a 185 docentes das áreas mencionadas; 140 estudantes de sete programas de Pós-graduação nas áreas mencionadas, e questionários presenciais a 406 estudantes de graduação de Medicina, Ciências Biológicas e Farmácia de duas IFES. Ainda, oito professores foram entrevistados. A pesquisa identificou e caracterizou dois EPs atuais em relação ao uso de animais nas Ciências Biomédicas. Como verificamos, estes dois EPs atuam sobre as mesmas questões de pesquisa, porém orientados por uma estrutura de ideias e práticas bastante diferenciadas. O EP mais antigo, denominado vivisseccionista, é atualmente o hegemônico. Esta hegemonia, construída ao longo dos séculos, e que permitiu uma grande sistematização do saber, estabeleceu uma harmonia na forma de se conceber o papel do modelo animal no empreendimento científico, considerado como essencial e inquestionável. No entanto, a pesquisa identificou sinais de declínio do atual EP, face às crescentes complicações identificadas e que propiciam o surgimento de um EP emergente e inovador, e com uma incipiente representatividade entre docentes e estudantes. Há, ao mesmo tempo, uma forte sintonia por parte da maioria dos estudantes, nas áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, com perfis potencialmente tradicionais em relação ao emprego de animais em atividades de pesquisa, levando a crer que a atual abordagem da educação científica favorece a permanência de uma forma de pensar afinada com o EP hegemônico, corroborando a hipótese inicial da pesquisa. Os resultados ainda indicam que, apesar da forte tendência no estabelecimento do conceito dos 3Rs identificado na literatura e nas entrevistas, há pouca assimilação deste conceito tanto nas graduações quanto nas Pós-graduações investigadas. Diversas recomendações são propostas. |
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