Implicações do ensino remoto emergencial na formação docente nas licenciaturas da área curricular Ciências da Natureza da UFSC

Abstract

Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar as implicações do Ensino Remoto Emergencial (ERE), em decorrência da pandemia da Covid-19, na formação docente nas Licenciaturas da área curricular de Ciências da Natureza da UFSC. Para isso, propomos responder o seguinte problema de pesquisa: Quais as implicações do ERE na formação docente nos Cursos de Licenciatura da área curricular Ciências da Natureza? Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, desenvolvido a partir de múltiplas fontes de informações, sujeitos (Professores de cursos de Licenciatura em Química, Física e Ciências Biológicas) e documentos (Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) e currículos da área). Os instrumentos utilizados para coleta de informações foram: (i) questionários e (ii) entrevistas com os professores; e (iii) Roteiro de Análise Textual para os documentos. O tratamento dos dados foi realizado por meio da técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 2016), da qual emergiram categorias que abarcam as relações dos docentes formadores com as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) antes, durante e após o ERE, as estratégias pedagógicas mobilizadas, os desafios enfrentados, as lacunas formativas observadas e as implicações futuras a partir da análise dos PPC reformulados. Os resultados revelam que, antes da pandemia, as relações com as TDIC eram heterogêneas e, em muitos casos, marcadas por uma abordagem funcional ou ocasional. Durante o ERE, embora os docentes tenham participado de cursos oferecidos pela instituição, muitos consideraram tais formações insuficientes frente às demandas emergenciais. Destacaram-se a sobrecarga de trabalho, a dificuldade de conciliar vida profissional e pessoal e a pressão por rápidas reinvenções metodológicas. Ainda assim, constatou-se que o ERE provocou um deslocamento significativo na prática docente, de ordem técnica, pedagógica, ética e afetiva. Entre as oportunidades formativas identificadas, destacam-se: o fortalecimento da autonomia discente, a apropriação de recursos tecnológicos, a promoção de uma postura crítica e reflexiva diante do ensino remoto, a continuidade dos processos formativos e o relaxamento de critérios avaliativos que proporcionaram maior segurança aos estudantes. Por outro lado, os desafios envolveram desigualdades no acesso às tecnologias, limitações nas interações pedagógicas e prejuízos à dimensão prática da formação, com destaque para a fragilização das experiências de estágio, defasagens no acompanhamento pedagógico, ausência de atividades experimentais e impactos negativos na construção da autonomia dos licenciandos. Conclui-se que o ERE explicitou fragilidades estruturais e históricas da formação docente, ao mesmo tempo em que ampliou o debate sobre a necessidade de integrar criticamente as TDIC aos currículos de formação inicial. Como implicações futuras, aponta-se a urgência da reformulação curricular com base na perspectiva da Mídia-Educação, o fortalecimento da formação continuada de professores, a criação de espaços híbridos e interativos para o desenvolvimento do estágio e a implementação de políticas institucionais voltadas à inclusão digital, ao bem-estar docente e à equidade no processo formativo.

Abstract: This research aims to characterize the implications of Emergency Remote Teaching (ERE), due to the Covid-19 pandemic, on teacher training in undergraduate courses in the curricular area of Natural Sciences at UFSC. To this end, we propose to answer the following research problem: What are the implications of ERE for teacher training in undergraduate courses in the natural sciences curriculum? This is a qualitative study, based on multiple sources of information, subjects (teachers of undergraduate courses in Chemistry, Physics and Biological Sciences) and documents (Pedagogical Projects of the Courses (PPC) and curricula of the area). The instruments used to collect the information are: (i) questionnaires and (ii) interviews with the teachers; and (iii) a Textual Analysis Guide for the documents. The data was processed using the Content Analysis technique (Bardin, 2016), from which categories emerged that cover the relationships between teacher educators and Digital Information and Communication Technologies (DICTs) before, during and after the ERE, the pedagogical strategies mobilized, the challenges faced, the training gaps observed and the future implications based on the analysis of the reformulated PPCs. The results show that, before the pandemic, relations with ICT were heterogeneous and, in many cases, marked by a functional or occasional approach. During the ERE, although the teachers took part in courses offered by the institution, many considered this training to be insufficient in the face of emergency demands. They highlighted work overload, the difficulty of reconciling professional and personal life and the pressure for rapid methodological reinventions. Even so, it was found that the ERE caused a significant shift in teaching practice, in technical, pedagogical, ethical and emotional terms. Among the training opportunities identified were: the strengthening of student autonomy, the appropriation of technological resources, the promotion of a critical and reflective attitude towards remote teaching, the continuity of training processes and the relaxation of assessment criteria that provided greater security for students. On the other hand, the challenges involved inequalities in access to technologies, limitations in pedagogical interactions and damage to the practical dimension of training, with emphasis on the weakening of internship experiences, gaps in pedagogical monitoring, the absence of experimental activities and negative impacts on building the autonomy of undergraduates. The conclusion is that the ERE exposed structural and historical weaknesses in teacher training and, at the same time, broadened the debate on the need to critically integrate ICT into initial training curricula. Future implications include the urgent need to reformulate the curriculum from a Media Education perspective, strengthening continuing teacher training, creating hybrid and interactive spaces for internships and implementing.