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O presente estudo, por meio de uma pesquisa interpretativista de cunho etnográfico (Erickson, 1984, 1989; Cavalcanti, 1990; Moita Lopes, 1994, 1996; Emerson et alli, 1995; Mason, 1997; Agar, 1998), foi norteado pela seguinte pergunta de pesquisa: Que representações são construídas por surdos adultos, alunos de uma turma da Educação de Jovens e Adultos do Instituto Nacional de Educação de Surdos, por seus professores ouvintes, pela professora surda e pelo monitor surdo sobre as línguas com as quais convivem (Português e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS) na escola? Para tentar responder a essa pergunta, a discussão foi encaminhada em uma perspectiva multidisciplinar utilizando concepções provenientes da Sociologia (Elias e Scotson, 2000), Antropologia e História (De Certeau, 2001), Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 1989, 2001) e Filosofia da Linguagem (Bakhtin, 1979, 1997) que, em articulação com as contribuições dos Estudos Culturais (Silva, 1998,1999; 2000; Woodward, 2000), Estudos Surdos (Skliar, 2002, 2003) e as reflexões no campo da educação bilíngüe para minorias (Romaine, 1989; Grosjean, 1982, 1992; Garcia e Baker, 1995; Sktnabb-Kangas, 1995 Maher, 1997) e para surdos (Lane,1992; Widell, 1994; Skliar, 1997, 1998, 1999, 2000; Souza, 1998, 1999, 2000; Svartholm,1998; Freire, 1998, 1999, dentre outros) busca uma interpretação possível para as relações entre representações, linguagem e ensino no contexto escolar em foco. Parte-se da idéia de que as representações que os participantes constroem da língua de sinais e do português os localizam em determinadas posições produzindo repercussões no processo de ensino e aprendizagem. Dadas as particularidades das interações entre alunos surdos, profissionais surdos e professores ouvintes, no contexto desse estudo, foi central a esta análise a concepção de estabelecidos e outsiders desenvolvida por Elias e Scotson (2000) para o entendimento das diferentes posições que os participantes ocupam nos seus modos de ver a si mesmos e ao outro em suas práticas discursivas. A análise dos registros mostrou que as representações construídas pelos participantes acerca das duas línguas que circulam naquele contexto escolar remetem ao conflito nuclear vivido por todos: a língua de sinais, língua natural dos alunos surdos e importante traço identitário desse grupo, tem no processo de ensino e aprendizagem apenas a função de ponte e apoio para a aprendizagem, enquanto o português escrito, em relação ao qual os alunos podem ser considerados aprendizes iniciantes, ocupa um lugar central como língua legitimada na escola pensada pelos ouvintes. A repercussão desse conflito nas interações entre os participantes e nos diferentes significados que atribuem às línguas ora os insere, ora os desloca nos / dos discursos hegemônicos historicamente construídos sobre os surdos e a surdez calcados na representação matriz da deficiência. E é nas brechas desses deslocamentos, presentes nas vozes desses participantes, que esse estudo se apóia para apontar possíveis saídas em direção a um projeto educativo que incorpore os próprios surdos em sua arquitetura curricular e em suas decisões pedagógicas. |
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