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Discuto, nesta tese, como se caracteriza a interação social, em uma escola inclusiva, entre surdos e ouvintes e faço reflexões sobre as representações que são construídas sobre surdez e língua de sinais, bem como sobre identidades surdas. O que torna esse ambiente sociolingüisticamente complexo é o fato de haver, na sala de aula pesquisada, quatro alunos surdos não usuários do português oral, sendo que a grande maioria dos alunos ouvintes e a professora não sabem LIBRAS. Por se tratar de um trabalho de cunho etnográfico (Erickson, 1984 e 1986, Van Lier, 1990; Mason, 1997; Winkin, 1998; Cavalcanti, 2000), o corpus provém de registros (Mason, 1997; Cavalcanti, 2000) gerados por observação não-participante. Tais registros foram feitos por meio de anotações e diário de campo, gravação em áudio e posterior transcrição, entrevistas e conversas formais e informais, bem como diário retrospectivo. A fundamentação teórica se alicerça em reflexões da Lingüística Aplicada (Cavalcanti, 1999; Canagarajah, 1999 e 2004; Maher, 1997 e 2007; Silva, 2005; Favorito, 2006), da Educação Intercultural (McLaren, 2000; Moreira, 2002; Maher, 2007); da Educação Bilíngüe para Minorias (Souza, 1998 e 2007; Souza & Góes, 1999) e dos Estudos Surdos (Perlin, 2006). Dada sua importância para a discussão, conceitos de representação e identidade foram buscados nos Estudos Culturais (Hall, 1997; da Silva, 2000 e 2005) e o de resistência na Antropologia e História (Certeau, 1994), enquanto que a noção de estabelecidos e outsiders foi trazida da Sociologia (Elias & Scotson, 2000). Os resultados mostram que a interação social entre a professora-sujeito e seus alunos surdos ocorria de diversas maneiras. Por ter uma representação positiva da língua de sinais, da surdez e desses alunos, a professora utilizou diversos meios para com eles interagir. Já a comunicação entre os alunos surdos ocorria com freqüência pelo fato de os quatro serem usuários da língua de sinais. Além disso, naqueles momentos em que, devido à diferença lingüística, não lhes era possível participar das atividades da sala de aula, eles se valiam da tática (Certeau, op. cit.) de se comunicarem em LIBRAS em espaços definidos como ‘zonas de refúgio’ (Canagarajah, op. cit.), o que lhes permitia atribuir, a si próprios, identidades mais positivas. Por outro lado, embora os momentos de interação entre alunos surdos e ouvintes não tenham ocorrido com muita freqüência, com exceção daqueles que se realizavam com uma aluna ouvinte bilíngüe, as representações que os aprendizes ouvintes construíram da língua de sinais e da surdez, assim como as identidades que atribuíram aos alunos surdos eram, na maioria das vezes, positivas. |
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