Abstract:
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O presente estudo teve por objetivo investigar o acesso às instituições de ensino superior por indivíduos surdos e a permanência destes alunos nos cursos de graduação pretendidos, buscando identificar e analisar, as formas como as Instituições de Ensino Superior realizam a seleção de indivíduos surdos, os procedimentos utilizados que procuram ampliar as possibilidades de permanências desses alunos nos cursos que ingressaram, as dificuldades que esses alunos apresentam sob a ótica dos responsáveis pelos cursos e por seus professores, e a produção escrita desses candidatos. Para tanto, restringimos a investigação a uma única Universidade, no intuito de conferir os procedimentos de seleção de alunos, as adequações realizadas para atender a este público e as dificuldades encontradas. A coleta dos dados foi realizada através de preenchimento de protocolo pelo setor responsável pelo vestibular, entrevista com a supervisora deste setor, entrevistas com a coordenadora e as professoras do curso de Pedagogia e registros dos candidatos surdos que participaram do processo seletivo de verão 2012. Para nortear a organização e a análise dos dados coletados, utilizamos as contribuições de Cury (2002 e 2008) e Sacristán (2001), baseando as discussões sobre o direito à educação, juntamente com a legislação vigente, da que caracteriza e define o ensino superior, a que se volta aos direitos dos alunos deficientes, entre eles os surdos, em relação à educação. Foram apresentadas três hipóteses: o acesso ao Ensino Superior para alunos surdos é facilitado, sem que as IES tivessem garantias de que as adaptações realizadas em relação aos processos seletivos considerassem a proficiência na língua escrita; as dificuldades dos alunos surdos se deviam basicamente à falta de domínio da língua escrita por parte desse alunado; o desempenho desses alunos por meio da língua escrita mostrava a precariedade de sua apropriação da língua portuguesa, o que prejudicaria tanto o acesso ao conhecimento registrado em obras impressas, quanto a qualidade de suas próprias expressões escritas. Dentre os resultados, a análise dos dados nos revelou que a aprovação no exame vestibular das três primeiras candidatas surdas, com ótima escrita, e a reprovação das outras duas, com escrita desconexa e ininteligível, demonstra que o vestibular da Universidade exige a proficiência na língua escrita, não levando em consideração apenas o aspecto semântico das redações, contestando a primeira hipótese. No entanto, durante a trajetória dos alunos surdos na Universidade, a maioria das entrevistadas considera insatisfatória a produção escrita desse alunado, além de que a questão do desempenho desses alunos, por meio da língua escrita, demonstra, de fato, a precariedade de apropriação dos conteúdos propostos, o que acaba por prejudicá-los no acesso aos conhecimentos registrados impressos e na qualidade de suas escritas. |