Abstract:
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A considerar o número relativamente pequeno de alunos surdos que freqüentam o ensino superior, este estudo objetiva conhecer as experiências destes alunos e as suas condições nesse nível de ensino, em três municípios da região norte do estado de São Paulo. Participaram da pesquisa sete surdos universitários, na faixa etária entre 22 e 39 anos, sendo cinco do sexo feminino e dois do sexo masculino. Um não conseguiu concluir os três cursos que iniciara. Os dados foram obtidos, em um período de 6 meses, por meio de entrevistas individuais sucessivas, presenciais ou à distância, via internet, empregando o português falado, escrito ou a língua de sinais, com a mediação de intérprete. Realizaram-se dez entrevistas presenciais, que foram gravadas e transcritas e onze à distância, mediante e-mail e Messenger®. Os relatos foram analisados sob o referencial sócio-antropológico, que entende a surdez como experiências e inter-relações visuais e os surdos como diferentes, lingüística e culturalmente. Sob esse referencial, os surdos são vistos como bilíngües, biculturais, pertencentes aos grupos minoritários e que freqüentam, na maioria das vezes, uma escola oralauditiva, monocultural e padronizada. Os resultados apontam que as condições dos surdos no ensino superior são de dificuldades, de impedimentos, de abandono e de rejeição. Os surdos são obrigados a se responsabilizarem por sua aprendizagem, priorizando o trabalho extraclasse para recuperação de notas de provas. A escola se organiza de acordo com interesses e necessidades dos ouvintes, isto é: não há uma língua compartilhada para os alunos surdos, não há intérprete português-Libras, não há professor de português como segunda língua, não há contexto bicultural, não há interlocução na escola. Concluiu-se que os surdos são capazes, produtivos, solidários e interessados em avançar no seu processo de escolarização, apesar dos empecilhos encontrados, dia após dia, no interior do espaço escolar. Uma das principais dificuldades para os surdos é o fato de, em uma escola organizada para os ouvintes, os surdos serem vistos como os únicos responsáveis pelo seu processo de ensino-aprendizagem. A reorganização da escola exigida pelo movimento de inclusão, pela nova legislação e pela perspectiva sócio-antropológica prevê a presença, na escola, de professores fluentes em Libras, de intérpretes português-Libras, de professores de Libras (prioritariamente surdos capacitados), e da comunidade e cultura surdas. Entre esses novos agentes, é imprescindível a presença do educador surdo para possibilitar que a escola vá além da presença da língua de sinais e possa avançar o processo em direção a favorecer a construção da identidade surda e a presença da cultura surda. |