Alunos surdos na escola regular: questionando o paradigma da integração

Abstract

Este trabalho teve como objetivo lançar mais um olhar ao debate educacional crítico sobre a educação de surdos. Os Estudos Culturais e os Estudos Surdos foram as lentes com os quais foi possível refletir acerca da proposta oficial de integração de surdos, preferencialmente em escola regular, e através deles chegar à reflexão acerca das relações com a cultura, com o poder, com as identidades, na tentativa de problematizar os efeitos do fracasso escolar generalizado na educação de surdos. Neste trabalho, situei o aluno surdo na escola regular de ensino, questionando o paradigma da integração escolar por meio da análise dos enunciados que afloram no cotidiano escolar, ou seja, dos enunciados dos alunos surdos, da comunidade surda, dos professores e dos alunos ouvintes. Várias questões foram refletidas, colocando sob suspeita os fundamentos que sustentam nossas práticas, e que urgem por mudanças e por ressignificação. Os dados colhidos neste trabalho apontaram para a verificação de que existe na escola – e em toda sociedade – um certo olhar obrigatório imposto por um conjunto de representações sociais hegemônicas a respeito da surdez e dos surdos; a verificação de que a educação de surdos tem sido subjugada ao modelo ouvinte; a verificação de que os surdos, na escola regular, ainda passam por situações em que ficam em posição subalterna; a verificação de que o aluno surdo integrado ao ensino regular tem um acesso limitado aos componentes culturais que podem reforçar sua identidade de sujeito surdo (língua de sinais, cultura, história e demandas próprias); a verificação das possibilidades de desenvolvimento dos alunos surdos, tanto na escola específica de surdos como na rede regular de ensino, mas, com a preferência pela escola específica de surdos enquanto ambiente mais propício ao desenvolvimento desta minoria linguística e cultural; a importância da escola como ambiente linguístico para a aquisição da Língua de Sinais. Enfim, este trabalho apontou para a necessidade da construção de uma educação multicultural, como aquela capaz de atender tanto as necessidades específicas das diversas comunidades que coexistem na sociedade, como, principalmente, aos imperativos da inclusão social.