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As características do ambiente onde crianças e adolescentes residem podem oferecer oportunidades ou barreiras para a prática de atividade física, o acesso a alimentos saudáveis e a participação em iniciativas socioassistenciais voltadas à promoção de saúde. Este estudo teve como objetivo avaliar a disponibilidade espacial de equipamentos de três domínios do ambiente construído e testar a associação do sobrepeso/obesidade com a utilização e a disponibilidade espacial destes equipamentos no entorno residencial de escolares de 7 a 14 anos de idade, residentes em Florianópolis - SC. Trata-se de estudo transversal, realizado com amostra probabilística de 2.506 escolares, cujos dados foram coletados entre 2012 e 2013. As variáveis antropométricas utilizadas foram o peso e a estatura dos escolares, com os quais se calculou o Índice de Massa Corporal (IMC), e a circunferência da cintura (CC). O desfecho principal do estudo foi o IMC, utilizado como variável quantitativa e também como variável categórica, a partir da classificação proposta, para idade e sexo, pela Organização Mundial de Saúde. A variável CC foi utilizada como desfecho quantitativo contínuo e também foi categorizada de acordo com pontos de corte específicos para idade e sexo. As variáveis relativas à utilização de equipamentos do ambiente construído foram autorreferidas pelos participantes da pesquisa, sendo relacionadas a equipamentos dos ambientes alimentar, de atividade física e socioassistencial. Os participantes também responderam sobre distância destes equipamentos, em tempo de caminhada a pé, das suas residências. As variáveis relativas à disponibilidade espacial de equipamentos dos ambientes alimentar e socioassistencial foram coletadas por meio de fontes de dados secundárias. Os dados sobre a existência de equipamentos do ambiente de atividade física foram coletados in loco, por meio de dispositivo receptor de sinais de localização geográfica via satélites (Global Navigation Satellite Systems (GNSS), da marca Garmin®. A disponibilidade ambiental de equipamentos em Florianópolis e no entorno residencial dos escolares, bem como a espacialização da ocorrência de sobrepeso/obesidade foram analisados por meio do software ArcGis versão 13.0.1, no qual foram construídos mapas temáticos. As análises estatísticas inferenciais foram realizadas no software Stata 13.0. A tese encontra-se estruturada em três artigos. O primeiro artigo analisa a associação do uso e da distância percebida da residência a espaços públicos para prática de atividade física e lazer ativo com indicadores de sobrepeso/obesidade (IMC e CC), de acordo com tercis de renda familiar. Análises de regressão linear univariadas e multivariadas foram empregadas para a amostra geral e nos estratos de renda familiar, para verificar a associação entre uso e distância percebida a quatro diferentes espaços do ambiente de atividade física e os desfechos contínuos. Morar a 1-10 minutos de caminhada a pé de parques/playgrounds se associou a menores valores de IMC, após ajuste para a idade e sexo, no tercil de renda mais baixo (ß = -2,15; IC 95% = -2,53; -1,77). Também neste tercil de renda familiar, morar a 11-19 minutos de caminhada a pé de parques/playgrounds se associou a menores valores de CC (ß = -0,11; IC 95% = -0,17; -0,05). Novamente no tercil de renda mais baixo, morar a 11-19 minutos a pé de praias se associou a menores valores de IMC (ß = -1,10; 95% CI = -1,61; -0,59). As distâncias mais próximas da residência a campos de futebol associaram-se a valores mais altos de IMC e CC, também em escolares de baixa renda (ß = 1,73; IC 95% = 0,31; 3,15 para 1-10 minutos e ß = 0,53; IC 95% = 0,18; 0,88 para 11-19 minutos para IMC; e ß = 0,03; IC 95% = 0,005; 0,14 para 11-19 minutos e CC). No segundo artigo, as análises de associação com o IMC incluíram o uso e a distância percebida dos parques/playgrounds e campos de futebol, e também de espaços de mais dois domínios do ambiente: três equipamentos do ambiente alimentar e seis do ambiente socioassistencial, em dois estratos de renda. As análises confirmaram que morar longe de parques/playgrounds (>10 minutos de caminhada a pé) se associou a maiores valores de IMC (ß=0,53; IC 95%=0,33-0,73), no estrato de mais baixa renda. Quanto aos campos de futebol, novamente associaram-se com o IMC, porém, no estrato de renda mais alto e mostrando que aqueles que moram mais longe destes espaços possuem menores valores do desfecho (ß= -0,49; IC 95%= -0,69; -0,29). Os ambientes alimentar e socioassistencial não mostraram associações significativas com o IMC nas análises multivariadas, ajustadas para idade, sexo, escolaridade dos pais e variáveis relativas à qualidade da alimentação. No terceiro artigo, os objetivos primários foram analisar a distribuição espacial dos equipamentos dos três domínios do ambiente construído em Florianópolis, assim como espacializar a ocorrência do sobrepeso/obesidade. Adicionalmente, avaliaram-se o uso geral de equipamentos (somatório do uso de equipamentos por domínio do ambiente) e a disponibilidade ambiental dos mesmos no entorno residencial dos escolares (400 e 800 metros) e associaram-se estas características ambientais com a ocorrência do sobrepeso/obesidade. As análises espaciais mostraram uma maior concentração de sobrepeso/obesidade entre os escolares residentes na porção continental e no centro do município, que também são os locais com maior densidade demográfica e de maior concentração de equipamentos dos três domínios do ambiente. A região centro do município também é o local em que se observaram áreas de ponderação pertencentes ao mais baixo e mais alto quintis de renda. O principal achado inferencial foi a associação direta da variável disponibilidade de 1 ou mais equipamentos saudáveis e mistos do ambiente alimentar na proximidade de 400 metros das residências com o sobrepeso/obesidade, nas crianças de 7-10 anos (OR= 1,56; IC 95%= 1,07; 2,28). Entre os adolescentes (11-14 anos), não se observou associação significativa do IMC com as variáveis ambientais estudadas. Ao analisar os resultados inferenciais dos três artigos, pode-se concluir que as diferentes associações encontradas para o ambiente de atividade física com o IMC dos escolares (artigos 1 e 2 versus artigo 3) podem ser devidas às distintas maneiras de estratificar a amostra (por meio da renda familiar nos artigos 1 e 2, e por meio das classes etárias no artigo 3). Já a falta de associação observada no terceiro artigo, para o ambiente de atividade física e o IMC, pode ser explicada pelo fato de que nos artigos 1 e 2 as distâncias avaliadas eram autorrelatadas, enquanto no artigo 3, a proximidade das residências aos espaços avaliados foram medidas reais, calculadas por meio do software de análise geográfica, surgindo, nesta análise, uma associação do ambiente alimentar com o IMC de crianças de 7 a 10 anos. Ao avaliar os resultados da análise espacial aliados à análise estatística inferencial, pode-se sugerir que as crianças que apresentam sobrepeso/obesidade e que residem na região centro (uma das áreas mais densamente povoadas, com maior concentração de equipamentos do ambiente alimentar e com densidade intermediária de sobrepeso/obesidade) estejam frequentando os espaços saudáveis e mistos do ambiente alimentar perto de suas residências, a fim de adquirir produtos alimentícios saudáveis (causalidade reversa). Outra possibilidade de explicação para este resultado, é que as crianças têm comprado alimentos marcadores de alimentação não saudável, mesmo nos estabelecimentos saudáveis e mistos do ambiente alimentar, o que pode contribuir para a ocorrência do sobrepeso/obesidade. É necessário inventariar, tanto nos equipamentos mistos e saudáveis do ambiente alimentar de Florianópolis, quais produtos são comercializados e quais estão sendo consumidos pelas crianças, a fim de elucidar porque a presença de um ou mais equipamentos saudáveis e mistos do ambiente alimentar a 400 metros das residências se associou significativamente à presença do sobrepeso/obesidade nos escolares de 7 a 10 anos de idade. |
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Abstract : The characteristics of the environment in which children and adolescents live can offer opportunities or barriers for the practice of physical activity, healthy food consumption, and engagement into social assistance actions for health promotion. This study seeks to evaluate the spatial availability of places from three domains of the built environment as well as the association between overweight/obesity and spatial availability/use of such places surrounding the home of schoolchildren/ adolescents from 7-14 years old living in the City of Florianópolis (Southern Brazil). A cross-sectional investigation was carried out with a probabilistic sample of 2,506 schoolchildren/adolescents evaluated in the years of 2012 and 2013. The anthropometric variables used to carry out analyzes weight and height of the subjects, which were used to calculate Body Mass Index (BMI) and circumference. BMI was the major outcome and was used as a quantitative variable. It was categorized by age and sex according to the World Health Organization criteria. WC was also evaluated as a quantitative outcome; its values were classified according to the criteria by Fernandez et al. (2004). Variables related to the use of places from food, physical activity, and social assistance environments were self-reported by the schoolchildren and their parents. Participants also answered questions about the perceived distance from their home to such places by foot. Variables related to spatial availability of the food and social assistance places in Florianópolis were collected via secondary data sources. Data related to the spatial availability of physical activity places were objectively collected using a geographic localization signals receptor (Global Navigation Satellite System), called Garmin . Spatial availability of places in Florianópolis surrounding the homes of the schoolchildren interviewed in this study, as well as places related to overweight/obesity, were analyzed using ArcGis software (version 13.0.1), in which thematic maps were constructed. Inferential analyzes were performed by Stata software (version 13.0); statistical analyzes and data discussion related to this study resulted in three papers. An association between the use of public spaces for physical activity and active leisure and their perceived distance from home with two indicators of overweight/obesity (BMI, and CC) was taken into account according to the monthly-income tertiles of the families. Univariate and multivariate analyzes were applied to the whole sample, as well as to the sample stratified by income. Four places from the physical activity environment were evaluated in order to verify their association with BMI and WC. Living up to 10 minutes from parks/playgrounds was associated with lower values of BMI after age and sex adjustment for the lower tertile of family income (ß = -2.15; IC 95% = -2.53; -1.77). Also in this tertile, living among 11 to 19 minutes from parks/playgrounds was associated with lower values of WC (ß = -0.11; IC 95% = -0.17; -0.05). The lowest income tertile (living among 11 to 19 minutes from beaches) was also inversely associated with BMI (ß = -1.10; 95% CI = -1.61; -0.59). Shorter distances from home to football pitches were associated to higher values of both BMI and CC for the schoolchildren from the lowest family income tertile (ß = 1.73; IC 95% = 0.31; 3.15 for 1-10 minutes, and ß = 0.53; IC 95% = 0.18; 0.88 for 11-19 minutes and IMC; and ß = 0.03; IC 95% = 0.005; 0.14 for 11-19 minutes and WC). In the second paper, analyzes related to associations with BMI included the use of parks/playgrounds and their distances from home. It also included the use of two domains of the built environment and their distances from home: three places from the food environment and six places or collective initiatives from the social assistance environment for the group stratified by family income. Results have confirmed that living further away from parks/playgrounds (up to 10 minutes by foot) was associated to higher BMI values (ß=0.53; IC 95%=0.33-0.73) for low-income schoolchildren. Regarding football pitches, they were once more associated with BMI for the highest-income strata, showing that those who live further away from such places show a lower outcome value (ß= -0.49; 95% CI= -0.69; -0.29). Food and social assistance environments were not significantly associated with the outcome in the adjusted analyzes, controlled by age, sex, level of education of the parents, and quality of food intake. The major goal of the third paper included an evaluation of spatial availability of places from three domains of the built environment in Florianópolis, as well spatial locations related to overweight/obesity. In addition, an evaluation of the whole use of places (addition of the places from the three domains) was carried out, which included spatial availability of the places surrounding the homes of the schoolchildren/adolescents (400 and 800 meters) and an association between such environmental features with overweight/obese. Spatial descriptive analysis has shown a higher density of overweight/obesity schoolchildren living downtown and in the continental portion of the city. Also, such areas have the majority of the population. Downtown is also an area in which the lowest and highest income rates are located. The main inferential finding is the positive and significant association between availability of =1 healthy and mixed places from the food environment within 400 meters of the home of schoolchildren; overweight/obesity was, however, perceived among children aged 7-10 years (OR= 1.56; CI 95%= 1.07; 2.28). A significant association between BMI and environmental variables among the adolescents (11-14 years old) was not observed. Inferential findings of the two first papers versus the third one should be different for the associations between the outcome and the physical activity environment, once in the case of the two first papers the sample was analyzed according to family income, whereas, in the third paper, the sample was stratified by age. On the other hand, the lack of association between overweight/obesity and the physical activity environment in the third paper could be explained, given that, in the two previous papers, the distance from home in relation to places inside the built environment were self-reported. On the other hand, the third paper made use of a geographical, software-based analysis in order to calculate distances related to the homes of the schoolchildren/adolescents and weighted places. Additionally, a new association related to food environments was displayed. Furthermore, results from the spatial and inferential analyses may suggest that children of 7 to 10 years of age living in Florianópolis downtown are consuming healthier foods near home (reverse causality). On the other hand, it is possible that younger children are consuming unhealthy foods near home, even though they can count on healthier and mixed food places, which may contribute to the occurrence of overweight/obesity. An inventory on food sold both on healthier and mixed food places, as well as what food products are being consumed by the children, must be carried out. This would help to elucidate the association between overweight/obesity in younger schoolchildren from 7 to 14 years old and the presence healthy and mixed food places. |
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