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Nesta tese, voltamos o nosso olhar para a temática da educação inclusiva, considerando a realidade de duas escolas públicas de educação básica no estado de Goiás. Mais precisamente, o nosso interesse recaiu sobre o modo como aconteciam as práticas de leitura e de escrita em Língua Portuguesa para alunos surdos matriculados nessas escolas. Dada a especificidade da educação inclusiva, acompanhamos tanto as aulas que ocorreram no espaço regular de ensino quanto aquelas que aconteceram no Atendimento Educacional Especializado (AEE). Como baliza para os procedimentos teórico-metodológicos, trabalhamos com o seguinte objetivo geral: problematizar o modo como os alunos surdos são significados nas e pelas práticas de leitura e de escrita na escola regular inclusiva, não perdendo de vista a relação destes com a Libras e a Língua Portuguesa, embora estejam aí implicados outros processos de significação (iconicização, digitação, entre outros). Em relação aos objetivos específicos, traçamos os seguintes: identificar os pré-construídos que acabam por ancorar a relação didático-pedagógica entre professores, alunos surdos e intérpretes; analisar os processos de significação (“sintagmatização” “sinalização”, “digitação”, “iconicização”, entre outros) que se constituem, no jogo discursivo de sala de aula, entre os ali envolvidos, buscando pensar nas tomadas de posição e em seus efeitos para o (não) acontecimento da aula em si; analisar o modo de os alunos surdos estarem em sala de aula, em termos de constituição e de formulação de sentidos, tendo em vista a prática de repetição empírica, formal e histórica dos sentidos. A pergunta de pesquisa que formulamos foi assim textualizada: Como se configuram as práticas de leitura e de escrita na sala de aula regular e no AEE para os alunos surdos, dada a relação entre diferentes processos de significação de sentido que ganham materialização no jogo discursivo de sala de aula? Para tanto, trabalhamos com a seguinte hipótese de pesquisa: embora haja discursividades oficiais que significam a relação de alunos surdos, na escola regular e no AEE, fazendo-se pressupor uma identificação destes com as práticas de leitura e de escrita, hipotetizamos que, nas escolas pesquisadas, a falta de uma inscrição na Libras (que produz um efeito de apagamento e de silenciamento) acaba por engendrar a prevalência de práticas de repetição empírica e formal destes alunos com as atividades de leitura e de escrita. Sendo assim, o modo de funcionamento específico da memória, no jogo discursivo das aulas acompanhadas, acaba por rarefazer uma repetição histórica de sentidos. Teoricamente, filiamo-nos aos estudos da Análise de Discurso a partir das teorizações de Pêcheux (1969, 1975, 1983), de Courtine (1981), de Orlandi (1984, 1987, 1998, 2007, 2009, 2016, 2020) de Grigoleto (2005) e de Indursky (2011). Metodologicamente, a nossa pesquisa pautou-se a partir de um trabalho de campo em que observamos e gravamos as aulas em vídeo na sala regular durante cinco meses e, também, no AEE por um período de três meses. As análises mostraram, em termos de tomada de posição, evidências de que as práticas de leitura e de escrita desenvolvidas pelos professores e pelos intérpretes não se reverteram a favor dos alunos, não implicando a constituição destes em processos discursivos que apontassem para uma relação outra entre a Língua Portuguesa e a Libras. Outros processos de significação acabam por rarefazer essa outra relação. Com isso, na maior parte das aulas analisadas, as práticas de leitura (interpretação oral) e escrita apresentaram-se no nível da repetição empírica, em que o sentido não se historiciza, nas redes de filiação no espaço discursivo de sala de aula. |
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